Setor de embalagens de vidro se lança no segmento de decoração

Impulsionados pela alta do setor de perfumaria e cosméticos, fabricantes de frascos de vidro ampliam suas capacidades na área de decoração

André Liberali, Diretor-Geral da SGD, Fabricante de Frascos de Vidro
André Liberali, diretor-geral da SGD, "Não quero verticalizar completamente a empresa, mas a expansão da produção de frascos e da área de decoração nos garantirá uma qualidade constante"

 

Com foco no segmento de perfumaria, a fabricante de frascos de vidro SGD está ampliando sua área de decoração. Cerca de R$ 8 milhões estão sendo investidos na compra de três máquinas e dois fornos neste semestre. Esses investimentos fazem parte de um total de R$ 70 milhões que a multinacional vai aplicar na expansão de seus negócios no Brasil, considerado um potencial líder mundial no setor de beleza.

O plano da empresa é elevar a capacidade interna de decoração de frascos, reduzindo a dependência dos fornecedores. “Os setor de perfumaria brasileiro está mais exigente e quer um nível de controle maior dos produtos que utiliza”, afirmou o diretor-geral da SGD, André Liberali. Para ele, as empresas buscam maior agilidade e praticidade na hora de comprar a embalagem pronta e o relacionamento com vários fornecedores que fazem a pintura muitas vezes dificulta as negociações.

Para atender empresas de grande porte como a Natura, a Avon e o Boticário, a capacidade interna de decoração da SGD – que hoje não passa de 30% das unidades vendidas pela companhia – deve alcançar o patamar dos 70% em dois anos. Em meados do ano que vem as obras para a ampliação da área de decoração já estarão concluídas. Neste momento, a capacidade de fabricação de frascos de vidro da companhia também já terá sido ampliada – de 1,3 milhão de unidades por dia para 2,6 milhões de unidades diárias. Os investimentos serão bancados por recursos vindos da matriz na França, pelo caixa próprio da subsidiária e por financiamentos.

Desde quando surgiu, há quatro anos, o grupo originado a partir do desmembramento do negócio voltado para as áreas farmacêutica e perfumaria da francesa Saint-Gobain (cujo foco atual são as garrafas de vidro para bebidas) investiu um total de R$ 30 milhões no Brasil.

“É uma aposta alta que estamos fazendo neste momento no país”, explicou o executivo. Com faturamento de € 550 milhões em 2010, o grupo francês tem, além do Brasil, subsidiárias na Espanha, Alemanha, China e EUA.

No contexto da crise europeia, a multinacional está se voltando para os países emergentes. A unidade brasileira, que em 2007 representava 5% dos resultados globais da empresa, hoje representa 10%. O faturamento da unidade avançou 50% nesse período. Segundo as projeções de Liberali, com esses investimentos, o Brasil pode chegar a ter uma participação de 15% nos resultados da multinacional em 2013.

“Acreditamos que seremos um caminho natural para as empresas internacionais de perfumaria e cosméticos que estão vindo para o Brasil. Já somos conhecidos lá fora”, ressaltou o executivo.

Vislumbrando esse potencial, em 2009 a subsidiária já tinha começado a comprar máquinas de decoração no exterior. O foco passou a ser o aumento do nível de sofisticação nos lançamentos do setor de beleza, que representa mais de 60% dos resultados da unidade, enquanto os outros 40% vêm do setor de farmácia.

O mercado interno começou a se destacar. “Mas tínhamos de convencer a Europa de que o país estava descolado da crise global”, contou Liberali. A matriz parece ter se convencido. Neste ano, ainda no início de sua expansão, a empresa no Brasil está tendo de importar frascos da SGD na França para atender a demanda do setor, que antecipa o consumo das festas de fim de ano.

Na área de medicamentos, as perspectivas também são positivas. Apesar de ter perdido espaço com o crescimento das vendas dos genéricos – que buscam embalagens mais baratas -, a embalagem de vidro acompanha bem os padrões de qualidade, principalmente no exterior. E as multinacionais farmacêuticas que chegam ao país tendem a exigir esses padrões, na opinião do executivo.

“Não quero verticalizar completamente a empresa, mas a expansão da produção de frascos e da área de decoração nos garantirá uma qualidade constante”, acrescentou Liberali, enfatizando que continuará atuando com fornecedores na área de decoração.

 

Plastclean aposta na decoração de garrafas para o mercado de bebidas

Para ganhar agilidade junto aos clientes, em julho, a Wheaton comprou as operações de decoração de frascos para perfumes e cosméticos da Plastclean. Ao mesmo tempo, a Plastclean se lançou no mercado de bebidas e utilidades domésticas.

“Acreditamos que, em dois anos, nossas vendas em bebidas ultrapassem a que tínhamos em cosméticos”, afirmou o diretor-geral da Plastclean, Kleber Von Dentz. Há nove anos no mercado, a empresa tinha foco na decoração de vidros para os produtos de beleza, e atendia principalmente à demanda da SGD, maior concorrente da Wheaton na fabricação de frascos de vidro no Brasil e líder mundial no segmento. Com a oferta da Wheaton – cujo valor não foi revelado – a Plastclean viu a oportunidade de mudar de área. O novo segmento traz a chance de se ter um maior número de clientes, já que o setor de frascos para cosméticos é composto por poucas empresas.

“Nossa meta é conseguir decorar ao menos um ítem de cada fabricante de bebidas”, explicou o executivo. A primeira empreitada da empresa na área foi em 2009, quando a Plastclean comprou uma máquina especializada na decoração das garrafas. Para consolidar o novo negócio depois da venda para a Wheaton, a companhia está investindo R$ 4,5 milhões.

A capacidade de decoração da Plastclean somará 3,5 milhões de unidades a partir de janeiro. Depois de acumular faturamento de R$ 18 milhões em 2009 e de R$ 20 milhões em 2010, a companhia espera faturar cerca de R$ 10 milhões em 2012. Com a transição de negócios, os resultados deste ano não estão projetados.

Segundo Dentz, o mercado de bebidas ainda enxerga a decoração de garrafas como uma ação premium, para edições limitadas, por exemplo. “Lá fora essa demanda é maior. Mas o mercado por aqui também está mudando”, aposta o executivo.

Segundo o superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Vidro (Abividro), Lucien Belmonte, as ações das empresas do setor no sentido de se voltar para a decoração do vidro são uma resposta à necessidade dos clientes de terem a solução de embalagem completa.

“Em alguns setores, o diferencial é a embalagem e a pintura confere personalidade ao produto”, afirmou o executivo. A pergunta que fica é qual será a situação das pequenas empresas decoradoras de frascos diante da crescente verticalização da indústria? “Não podemos dizer como será, mas acredito que a necessidade dos fornecedores deve continuar, pois há enormes volumes de decoração específicos. Afinal, é a especialidade, não a commoditização, a característica desse mercado”, explicou Belmonte.

 

Fonte Valor