Tecnologia ajuda fabricantes a aperfeiçoar o isolamento acústico em esquadrias para portas e janelas
O alerta vem da Organização Mundial da Saúde (OMS): a poluição sonora é o terceiro maior problema que afeta o meio ambiente, perdendo apenas para a poluição da água e a do ar. No ser humano, a exposição excessiva aos ruídos pode provocar perda total ou parcial da audição, insônia e estresse, entre outras doenças. Nos últimos anos, no Brasil, vem ocorrendo um rápido crescimento das áreas metropolitanas. Assim, a verticalização combinada ao absurdo aumento da frota de veículos, além de piorar o trânsito, amplifica o impacto sonoro e compromete a qualidade de vida nas cidades.
O problema é grave. Mesmo assim, pouco se faz para combatê-lo. O pior é que passa desapercebido. Ou então é visto como um “mal necessário” e que “faz parte do progresso”, como muitos costumam dizer. Até pouco tempo atrás não era possível mensurar os efeitos dos ruídos de maneira mais exata e identificá-los. Mas com a tecnologia da holografia acústica, que utiliza equipamentos e software para fazer medições e simulações, isso se tornou factível e o fenômeno passou a ser visível. Isso mesmo, hoje já é possível identificar e fotografar o ruído.
O conceito de holografia acústica, que nasceu em 1920, vem sendo empregado em diversos segmentos, principalmente na indústria automobilística, setor em que a tecnologia ganhou proporções maiores e se desenvolveu. Já no caso das esquadrias, a holografia acústica começa a ser utilizada mais recentemente. A técnica permite aos arquitetos, consultores e profissionais da área de acústica identificar as melhores condições para combater a poluição sonora, especificando de maneira mais precisa materiais e sistemas de isolamento acústico que serão utilizados em janelas.
Imagens Acústicas
O trabalho com a holografia acústica é realizado por meio de imagens acústicas de campo próximo. Isto é, as medições são realizadas com microfones e permitem a elaboração de cálculos que minimizam as perturbações do ambiente, aproveitando os efeitos de proximidades. O objetivo principal é caracterizar acusticamente as janelas desenvolvidas e produzidas. A técnica permite determinar com precisão a perda acústica por transmissão de caixilhos e esquadrias e identificar os locais de vazamento de ruído em função da frequência. Neste trabalho os microfones fazem uma varredura na janela que está sob a ação do ruído.
Por exemplo, se um caminhão passa próximo a um prédio ou residência, o ruído fica mais nítido quando as janelas não possuem proteção acústica. O programa mostra por onde exatamente o ruído está passando. Dessa forma, é possível identificar onde atuar e instalar vedações para impedir o problema.
Os ensaios são realizados no laboratório somente para janelas prontas. A Atenua Som montou um laboratório de holografia acústica em 2005, orientada pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT). O local foi devidamente preparado, com duas salas reverberantes e medidas preestabelecidas.
Em um ponto são colocados os aparelhos de som que vão emitir 92,8 decibéis em ruído rosa, com a mesma intensidade sonora em todas as frequências, além de decibelímetro. Nos ensaios, são utilizados 12 microfones que fazem um mapeamento por toda a janela a cada centímetro. Em uma janela de 1,20 metro x 1,20 metro, por exemplo, são feitas medições em aproximadamente 600 pontos.
Os dados são enviados para um computador que, através de um software específico, processa as informações e as transforma em uma leitura fotográfica. Esta leva em conta os níveis de pressão sonora por frequência. Depois, as imagens são interpretadas por meio das cores que representam os decibéis por faixas de frequência. Dois engenheiros acústicos franceses, especialistas em holografia acústica, contratados pela empresa, examinam o resultado dos ensaios e oferecem a análise conclusiva, com sugestões de modificações para a melhoria do produto ensaiado. Até este ano, não existia no Brasil capacitação específica para essa tarefa. No entanto, a primeira turma de formação superior em acústica no país teve início em abril na Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
Leis Físicas
Para alcançar o conforto acústico, é necessário levar em consideração as leis físicas que regem o som, a fim de isolar o impacto sonoro em portas e janelas, levando em conta a essência do vidro como isolante acústico. Durante muito tempo, não havia sequer referências para soluções acústicas com vidros. Nos últimos anos, porém, esse setor evoluiu muito, assim como a indústria do alumínio, que desenvolveu o perfil conhecido com thermal break, trazendo mais avanços no campo do isolamento acústico. O thermal break funciona com dois perfis de alumínio acoplados a um perfil de poliamida, criando uma câmara no sistema, que atua como isolante tanto do som como da temperatura. Independentemente do tipo de perfil que se deseja trabalhar, seja aço, alumínio, PVC, aglomerado de fibras ou madeira, os aspectos construtivos e de projeto devem ser igualmente considerados (leia o quadro).
Também devem ser consideradas as leis da Fresta e da Economia. A Lei da Fresta diz que 1 milímetro de fresta pode representar 10% de perda no isolamento. Já a Lei da Economia demonstra que o uso de materiais leves compromete o isolamento. Outro ponto é a instalação da janela: o profissional responsável deve ser “caçador de ruídos”.
O isolamento dos espaços de uma janela ou porta deve ser adequadamente tratado. Mas também é preciso entender que a solução para a poluição sonora é muito ampla, envolvendo governo e sociedade como um todo, na medida em que todos são responsáveis pela redução de ruídos.
O importante é que construtoras, arquitetos, consumidores finais busquem valor agregado no isolamento acústico, reconheçam esses produtos como aliados e quebrem o paradigma de que tudo é despesa. É necessário conscientizar ainda a população, pois a poluição sonora é uma realidade que afeta a vida de todos. Com essa consciência, será possível virar esse jogo e garantir mais qualidade de vida.
Fonte: Finestra