Setor de vidros planos no Brasil atrai grandes investimentos

Ampliação da capacidade existente e entrada de novos fabricantes farão do país um dos grandes produtores mundiais de vidro para construção civil e automotivo

Davide Capellino, Presidente & CEO da AGC Vidros do Brasil
Davide Cappellino, presidente da AGC Vidros do Brasil, durante lançamento da pedra fundamental da primeira fábrica da empresa japonesa na América Latina (Foto: Armando Jr/ISP)

 

Diante do crescimento da demanda interna por vidros planos no Brasil, vinda principalmente dos setores automobilístico e de construção civil, novos fabricantes têm sido atraídos pelo mercado, enquanto os que já atuam, têm lançado projetos de ampliação da capacidade produtiva.

No patamar dos 1,6 milhão de toneladas por ano, o setor de vidros planos cresceu 10% no ano passado e, para os próximos anos, os resultados devem acompanhar o do Produto Interno Bruto (PIB) do país, segundo projeções da Associação Brasileira da Indústria de Vidro (Abividro). Cerca de 20% desse montante vem da indústria automobilística, 55% da construção civil, 15% vem do setor de linha branca e 10% vem de decoração.

Atualmente, há apenas duas fabricantes de vidro plano atuando no país, a Cebrace (joint venture entre a francesa Saint Gobain e a japonesa Pilkington) e a norte-americana Guardian.

Delas, apenas a Cebrace produz vidros para ser processado para a indústria automobilística. A empresa tem quatro unidades: duas em Jacareí (SP), uma em Caçapava (SP) e uma unidade em Barra Velha (SC), sendo que recentemente anunciou a construção de mais duas unidades. Com capacidade de cerca de 3 mil toneladas de vidro por dia, a companhia está ampliando sua capacidade em 900 toneladas por dia, segundo a Abividro. A Guardian, por sua vez, tem duas fábricas – Porto Real (RJ) e Tatuí (SP) – com capacidade de cerca de 1.400 toneladas por dia.

Mas as grandes novidades ficaram por conta dos anúncios de que a japonesa AGC, líder mundial na produção de vidros planos e automotivos, e a brasileira CBVP (Companhia Brasileira de Vidros), também estariam iniciando operações produtivas no país. Ambas querem atuar também no setor automobilístico. A unidade da CBVP está prevista para 2013, e elevará a capacidade nacional em 900 toneladas por dia.

Ao todo, as novas fábricas e projetos de expansão devem atender a demanda do mercado nacional, que hoje é absorvido em cerca de 30% por vidros importados, principalmente da China e México.

“Mas temos que levar em consideração, o crescimento dos setores que guiam o mercado de vidros. Eles têm grande potencial. Ainda devemos ter o peso das importações”, explica o gestor de relações institucionais da Abividro, Roberto Wertzner.

Para o grupo japonês AGC, o mercado brasileiro vive um bom momento e há espaço para todo mundo. “Acreditamos que a demanda futura vai superar o fornecimento”, afirmou ao Valor o CEO e presidente da empresa, Kazuhiko Ishimura.

O executivo esclarece também parte dos planos da empresa. “Temos bons negócios no exterior e queremos crescer no Brasil e nos países emergentes. Não precisamos falar muito do Japão”. O aviso feito por Ishimura mais do que esclarece a estratégia de crescimento da fabricante de vidros, evidenciando uma mudança de rumo nos negócios da tradicional companhia japonesa, após a crise global, que prejudicou o mercado japonês.

Também conhecida por Asahi Glass Company (AGC) e nascida em 1907, a empresa vive em meio a um forte plano de expansão internacional e passa a contar com o Brasil em seu voo global. Sua primeira fábrica no país, em Guaratinguetá (SP), apesar de ainda estar no início da construção, já está em vias de ganhar um plano de duplicação.

“Precisamos trabalhar em mercados que apresentem crescimento e, nisso, o Brasil se torna muito importante”, afirmou Ishimura. A nova fábrica, anunciada no ano passado, inicialmente vai atender 500 mil veículos por ano e produzir 220 mil toneladas de vidros voltados para a construção civil. Mas, a meta da multinacional é maior: atender 30% das necessidades de vidros planos do mercado automobilístico brasileiro a partir de 2014.

Para isso, a empresa deverá ter capacidade de cerca de 1 milhão de veículos. “Esse setor cresce muito. Temos área suficiente em Guaratinguetá para construir uma nova fábrica”, afirmou o executivo.

Com capacidade inicial total de 600 toneladas de vidros por dia, a unidade está recebendo investimentos de US$ 470 milhões, sendo aproximadamente US$ 310 milhões destinados à aquisição de máquinas e equipamentos e US$ 160 milhões para as obras de construção da fábrica. Com conclusão prevista para 2013, a unidade é a primeira do grupo na América do Sul, mas se voltará apenas para o mercado interno de vidros planos.

Poucos sabem, mas a AGC já está operando no Brasil. A empresa conta com um armazém em Guarulhos, na Grande São Paulo, com capacidade de 4 a 6 mil toneladas de vidro. No espaço são comercializados, desde março deste ano, 42 tipos de vidros importados, entre incolor, fumê, bronze, verde, laminado, pintado, refletivo e espelhos de todas as espessuras de outras unidades do grupo.

Ao colocar o pé no mercado brasileiro, a AGC acredita estar dando um grande passo para atingir a meta de ter 30% do seu faturamento total em 2020 vindo dos países emergentes. Hoje, a receita do grupo soma US$ 15 bilhões, sendo que as economias em crescimento têm representação de apenas 19%. Daqui a oito anos, estimativas da empresa apontam para resultados anuais no patamar dos US$ 25 bilhões.

A pretensão do AGC de ter uma atuação global está concentrada apenas na sua área de vidros, cuja matriz está na Bélgica, e hoje representa mais da metade das operações globais do grupo. Os negócios de eletrônicos e químicos ficam restritos à região asiática.

Dentre os 30 países onde o AGC atua, o Japão ainda ocupa um lugar importante nos negócios da empresa, representando 35% do faturamento global. “Mas temos que considerar que 65% já vêm de operações internacionais”, enfatizou Ishimura, evitando se estender sobre o assunto “Japão”. Segundo o executivo, o país ainda é importante, principalmente nos segmentos trabalhados pela empresa, mas as perspectivas têm se deteriorado diante das baixas taxas de crescimento. “Independentemente do terremoto no ano passado, o Japão já não mostrava crescimento após a crise mundial”, constatou.

Para compensar a fraqueza da matriz, o negócio é mesmo se voltar para fora. Os próximos mercados que devem receber operações da companhia serão a África do Sul e o Oriente Médio.

Tendo início em 2008, sua estratégia se volta ainda para a exploração de produtos sustentáveis e de maior valor agregado, como vidros para eletrônicos. Esse desenho deve ter efeito também nas operações brasileiras. Para concorrer por aqui, a empresa não quer adotar preço como diferencial, e vai dar mais ênfase nos serviços e novas tecnologias.