Projeto de lei sobre sacadas envidraçadas deve ser votado no Rio

Sensação do mercado vidreiro, sistemas de envidraçamento de sacadas poderão ser padronizados, mas apenas nas zonas Oeste e Norte

Projeto de Lei para Envidraçamento de Sacadas no Rio
O projeto, que gera polêmica por beneficiar apenas moradores da Barra da Tijuca e Recreio, determina a liberação destes sistemas de fechamento em vidro

 

Importante num clima tropical como o do Rio, a varanda será espaço de forte debate nos próximos dias, quando um projeto de lei sobre as sacadas cariocas deve ser votado. Ele determina que, nessas áreas, é permitido instalar vidro retrátil. O projeto só vale para as zonas Oeste e Norte. A Secretaria municipal de Urbanismo não só é contra o projeto, como já procurou o Ministério Público estadual para obstruí-lo na Justiça.

– Não se trata de fechamento das varandas, mas sim de se criar um padrão para quem quer se proteger da chuva, do vento e do sol. Atualmente, cada um fecha a varanda do jeito que quiser. O projeto tem o objetivo de regularizar essa questão. Além disso, com a lei, não se pagarão mais multas à prefeitura para se tentar regularizar mudanças na varanda – disse o vereador Carlo Caiado (DEM), autor do projeto de lei, ressaltando que uma emenda substitutiva retirou a Zona Sul do projeto.

Independentemente de lugar, a ideia de envidraçar as varandas não agrada a todos. Secretário municipal de Urbanismo, Sérgio Dias diz que o projeto de lei não obedece ao Plano Diretor do Rio e às regras básicas de sustentabilidade, além de querer privilegiar alguns poucos moradores da Barra da Tijuca:

– Alguns moradores da Barra têm colocado esses vidros irregularmente. A maioria das varandas do Rio na Zona Norte são abertas, assim como na Zona Sul. Não se deve criar uma lei para uma minoria, em detrimento de uma maioria que cumpriu as normas urbanísticas.

Conselheira do Instituto dos Arquitetos do Brasil no Rio (IAB-RJ), a arquiteta Cêça Guimaraens diz que a proposta de um vidro retrátil é um sofisma para disfarçar a intenção do morador de integrar a varanda a uma sala ou a um quarto:

– Essa proposta não leva em conta que um prédio foi fruto de um projeto de um arquiteto, que deve ser respeitado. Outra coisa: a varanda existe para minimizar a entrada de calor num quarto ou numa sala. Embora o vidro seja transparente, ele, além de atrair calor, tem presença forte e modifica a fachada de qualquer prédio – disse a conselheira do IAB-RJ.

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), Roberto Lira também é contra o vidro retrátil:

– Quando alguém adquire um imóvel, a varanda não é contada como área edificável. É como se fosse um bônus para o morador. Mas ela existe porque tem funções, como a de diminuir a intensidade do sol. Na Barra da Tijuca, infelizmente, tem muita gente fazendo esse envidraçamento.

Para vereadora Sônia Toledo (PV), a cidade tem que discutir se quer ficar sem varandas, comprometendo a ventilação e a entrada de luz do sol.

– As varandas não são boas só para os prédios, mas também são importantes para a cidade – disse a vereadora.

O vereador Eliomar Coelho (PSOL), por sua vez, diz que o projeto de lei vai contra a legislação urbanística:

– Ao fecharmos as varandas, seja do jeito que for, estamos comprometendo a qualidade de vida dos moradores do Rio.

 

Por Rogério Daflon ([email protected])

Agência O Globo