Os avanços tecnológicos proporcionados ao vidro já permitem construções estruturadas quase que integralmente em vidro
O personagem de Keanu Reeves no filme “A Casa do Lago”, (feita toda de vidro) –, ficaria entusiasmado com os recentes avanços tecnológicos proporcionados ao vidro na construção. Hoje, não é produto de ficção imaginar uma residência com vigas, paredes, escadas, portas, ou seja, tudo para além das tradicionais janelas de vidro.
“Há tecnologia disponível para isso, cujo desenvolvimento está acelerado de cinco anos para cá”, diz o engenheiro mecânico com 15 anos de experiência no material, Maurício Margaritelli. Sobre a casa do personagem de Reeves, comenta até que “ela era bem convencional”, por utilizar estruturas metálicas ou de alvenaria para fazer a união entre as de vidro. Sua empresa, a T2G Technical Glass Group, é pioneira no desenvolvimento de um material que permite ligar vidro, nada mais nada menos do que com outro vidro.
Na realidade, algo entre o vidro e o acrílico que, em ‘tecniquês’, passou por um processo estrutural de relaxamento de tensão. O que quer dizer que o material possibilita flexibilidade, tanto que foi batizado de Flexiglass. “Por meio de softwares similares aos utilizados no automobilismo e na aviação, simulamos o que acontece no material em aplicação para poder desenvolvê-lo”, conta Margaritelli, que também tem químicos de mercado em sua equipe.
C-Glass
Outra novidade trazida ao Brasil pela empresa é C-glass. O ‘c’ é por conta do formato em cedo vidro, que vem em painéis que param em pé sozinhos e se encaixam uns nos outros. O que isso significa? Que eles dispensam o uso de esquadria e garantem o isolamento termo acústico do ambiente, além de resistirem às pressões de vento. “É como um drywall (parede de gesso), só que translúcido”, explica.
A tecnologia vai ser utilizada em cerca de 30% de um empreendimento de alto padrão que deverá ser inaugurado em 2013, na Rua Harmonia, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. A construção é da Zabo Engenharia e o projeto, do arquiteto Arthur de Mattos Casas. “Meu princípio é juntar o exterior com o interior. Assim, a luminosidade proporcionada pelo trabalho com o vidro tem um papel importante no que eu desenvolvo”, diz Casas.
O arquiteto também assina o projeto do condomínio de dez casas Villa Itaim, já entregue no bairro da zona sul paulistana. Lá, o vidro aparece na escada e em parte da parede de seis metros de altura, que rende um pé direito triplo à sala e divide o cômodo do jardim de inverno. Anos luz. Mas, em termos globais, o Brasil ainda está aquém do que há em soluções em vidro no mundo.
As principais queixas são em relação às tímidas dimensões das placas de vidro brasileiras e à sua curvatura. “Muita coisa ainda tem de vir importada de outros países”, conta Casa, citando Bélgica e França como os mercados na dianteira do que é possível construir com vidro. Margaritelli, da T2G, concorda, mas admite que houve muito avanço. “Não poderíamos sequer ter essa conversa (sobre casas inteiras feitas de vidro) 15 anos atrás. Era absurdo pensar em vidro estrutural (que dispensa revestimento convencional de concreto”, diz.
Até as cortinas os vidros andam dispensando. O Intelligglass, conhecido no exterior como vidro privativo, é um dos responsáveis por isso. A partir de um toque e em menos de um décimo de segundo, ele passa de transparente para translúcido. Mágica? Não, apenas partículas suspensas em cristal líquido que permitem ao vidro permanecer opaco quando em repouso.
No modo on, as partículas mudam de posição e dão passagem à luz. Com tanta tecnologia, o único porém é o custo. O metro quadrado do Flexiglass, por exemplo, já chegou a variar de R$300 a R$26 mil, dependendo do projeto.“Vidro já foi mais caro. Até que não está tanto, percentualmente em relação ao metro quadrado”, diz Casas. Margaritelli concorda de novo, mas compara um imóvel todo feito do material a uma jóia. Talvez fosse nisso, em uma jóia, que o pai do personagem de Reeves estivesse pensando quando concebeu a casa título do filme. Na história, ele a projetou como presente para sua mulher.
Fonte: O Estado de S. Paulo