Alto custo da energia aliado ao real valorizado torna mais barato a compra do alumínio no exterior
O Brasil inverteu sua vocação de exportador de alumínio primário para importador, pela primeira vez. A queda na produção nacional e o aumento do consumo fizeram as importações duplicarem no primeiro semestre deste ano, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Aliado à queda de 21% nas exportações, o aumento de 99% nas compras levou o superávit do setor a US$ 21 milhões no semestre. Em igual período de 2010, o saldo comercial era positivo em US$ 424 milhões. Com o real valorizado, sai mais barato para as empresas comprar o insumo no exterior do que o investimento em novas fábricas no Brasil. O setor culpa também os altos custos da energia, pois eles tornaram a produção nacional pouco competitiva.
Nenhuma nova fábrica de produção de alumínio primário no País foi construída desde 1985. Ao contrário, projetos em funcionamento foram fechados nos últimos anos. Recentemente, a Novelis encerrou a produção de sua fábrica em Aratu (BA), que fornecia mais de 50 mil toneladas por ano.
A Rio Tinto escolheu o Paraguai para a construção de sua nova unidade. A Vale vendeu ativos de alumínio no País para a norueguesa Norsk Hydro.
Com o fechamento de fábricas, a produção interna de alumínio primário caiu 7% no primeiro semestre, somando 709 mil toneladas, segundo a Associação Brasileira do Alumínio (Abal). Com o aumento do consumo, estimado em 13% em 2011 pela entidade, a saída é comprar do exterior.
A Novelis prevê importar 40 mil toneladas de metal (da Argentina e Venezuela) para complementar o suprimento interno neste ano. A Vorantim Metais, antiga Companha Brasileira do Alumínio, também já recorre ao exterior para abastecer a demanda local.
“Temos a terceira maior reserva de bauxita do mundo, mas passaremos a exportar o minério sem nenhum valor agregado em vez de vendermos alumínio, se as coisas continuarem nesse rumo”, diz Adjarma Azevedo, presidente da Abal.
Para ele, em 2012 o consumo de alumínio primário estará no mesmo patamar da oferta e, em 2013, a balança será deficitária. Em produtos acabados, como folhas e chapas de alumínio, as importações já superam as vendas.
A indústria nacional está demandando mais alumínio para a produção de latas de bebidas, chapas para embalagens, fios e cabos para transmissão de energia, perfis para construção civil e peças para a indústria automobilística. “São indústrias com crescimento bem alto e, para suprir a demanda, tem de importar”, diz Cristiane Mancini, analista da Lafis.
Abal e governo federal debatem medidas para estimular o setor na nova política industrial. Segundo Mancini, apenas uma mudança significativa no custo da energia resolveria o problema.
A solução pode estar no gás do pré-sal. “Alternativas de produção de energia barata, a partir do gás, podem ser uma possibilidade, mas isso ainda é uma realidade distante”, diz Alexandre Rangel, diretor da Ernst & Young.
No Brasil, o MWh (megawatt hora) custa, em média, R$ 37 para a indústria. Na China e no Oriente Médio, o custo é de R$ 17 e R$ 20, respectivamente, segundo a Lafis. A energia representa de 25% a 40% do custo de produção do alumínio, segundo a Ernst & Young.
Fonte: Folha de São Paulo