Transação com a Vale transforma a norueguesa Norsk-Hydro na maior empresa de alumínio do mundo
A transferência dos ativos de alumínio da Vale para o grupo norueguês Norsk Hydro ASA, numa operação de US$ 5 bilhões, foi o maior negócio já feito por uma empresa fora da Noruega, revelou o vice-presidente da recém-criada na área de bauxita e alumina do grupo, Johnny Undeli, que também acaba de assumir a presidência da Hydro Alumínio no Brasil.
A transação com a Vale, que recebeu parte em dinheiro e parte em ações da norueguesa, passando a deter 22% do capital da companhia, vai tornar a Norsk-Hydro na maior empresa de alumínio do mundo, dado o domínio que terá sobre toda a cadeia de produção do metal, com destaque para matérias-primas como bauxita de Paragominas (PA) e alumina da Alunorte, prevê Undeli.
Segundo ele, o fortalecimento da Hydro em nível global coloca o negócio num contexto político para a Noruega em relação ao Brasil. “Acho que é correto eu dizer que as relações políticas entre o Brasil e a Noruega são muito boas, excelentes e estão sendo desenvolvidas ainda mais. O que nós estamos, agora, conseguindo junto com a Vale e nossos empregados no Brasil é uma perspectiva de longo prazo”., afirma. “Agora, somos uma empresa de 23 mil empregados, dos quais 4.500 no Brasil, e vamos cooperar de maneira aberta e transparente envolvendo as comunidades locais e autoridades locais. Nós, juntos, podemos ser muito mais. As relações entre os dois países se fortalece na medida em que vamos para a frente”, acrescenta o executivo.
A Norsk-Hydro é hoje a terceira maior produtora de alumínio do mundo. O governo da Noruega tem 43,89% do seu capital. Essa fatia caiu para 34,5% depois que a Vale passou a ser a segunda maior acionista da empresa. Pelo acordo, a Vale não pode ampliar sua fatia e tem que mantê-la por pelo menos dois anos.
Além de ter muitas operações de fundição e reciclagem na Europa, a empresa norueguesa é também operadora e tem sócios em Qatar, no Oriente Médio, onde instalou uma das maiores operações de fundição do mundo que estará operando a plena capacidade de 600 mil toneladas no segundo trimestre. Outros parceiros globais na área de fundição estão no Canadá e na Austrália. Na Noruega tem equipamentos de fundição na costa do país. “Agora, fizemos uma fusão com a Vale e nos tornamos uma empresa norueguesa-brasileira”, disse o executivo.
Para Undeli, o negócio com a Vale foi excelente. “Antes desse grande negócio estávamos sentados em posições minoritárias e éramos donos de pequenas partes da operação. E, no total, então, seríamos capazes de atender as necessidades que tínhamos para fundição”. Mas agora, ressalta o executivo, “o grande negócio nos tornou um ofertante ativo no mercado global para alumina e isso é novo para nós. Isso nos torna um parceiro, um sócio atraente para o futuro”. E, ao mesmo tempo, diz ele, nos dá força e segurança para o suprimento de matéria-prima, porque somos atualmente donos das matérias-primas”, disse entusiasmado o executivo da Hydro..
Os planos para os ativos brasileiros recém adquiridos passam inicialmente por expandir o volume das operações. “Isso vai nos exigir investimentos em expansão de volume e em investimento de capital (Capex). Estamos avaliando e amadurecendo ideias porque assumimos estas operações na semana passada. Vamos trabalhar com orçamento e números mais tarde”.
A Hydro recebe da Vale a Albrás, uma fundição de metal com capacidade de 460 mil toneladas por ano; a Alunorte, com porte de 6,3 milhões de toneladas de alumina/ano; e a mineradora de bauxita Paragominas, que já faz 9,9 milhões de toneladas anuais de minério; e o projeto da CAP, uma nova refinaria de alumina.
Undeli informou que a mina de Paragominas deve ser expandida para 10 milhões a 15 milhões de toneladas. Para a Alunorte, os planos passam por melhorias contínuas. “Sempre fazer um pouco melhor do que fizemos no ano anterior. O mesmo para a Albrás, apoiada por novas tecnologias”.
O executivo confirma que a intenção é também atender o mercado doméstico, apesar da principal força motriz do negócio aqui ser a bauxita e a alumina. Ou seja, matéria-prima. Mas Undeli promete examinar a possibilidade de fabricar lingotes de extrusão na Albrás para introduzir o produto acabado no Brasil. Hoje, o mercado brasileiro importa lingotes de extrusão. “Isso poderia servir como oportunidade para melhorar a situação aqui”. O projeto CAP deve entrar em operação em 2015, produzindo 1,8 milhão de tonelada de alumina.
O foco da Hydro é atualmente o alumínio, para o qual Undeli desenha um cenário de crescimento de 8% da demanda para 2001, contra 2010. O grupo vendeu as participações que detinha na Statoil, empresa norueguesa de óleo e gás, e elegeu a água limpa como matriz energética. Também se desfez dos ativos de fertilizantes no Brasil. Da época em que se instalou aqui, em 1974, até agora, a Hydro mantém, além das participações que possuía nos negócios de alumínio da Vale no Norte do país, uma empresa de extrusão de alumínio em Itu, São Paulo, com 400 empregados, onde ainda produz para abastecer o mercado brasileiro.
Apesar de estarem confortáveis em relação ao fornecimento de energia para as operações da Alunorte e da Albrás, pois há contratos de fornecimento de longo prazo firmados com a Eletronorte até 2024, os noruegueses não descartam estudar o mercado de energia no Brasil para o futuro. Na Noruega, a Hydro é a maior empresa local de energia do país, insumo que lá custo barato. No Qatar, existe uma combinação de energia e produção de alumínio. “Nesse contexto, também vamos ter interesse em entender e ver como o mercado de energia no Brasil funciona”, falou Undeli.
A decisão da Vale de se desfazer da área de alumínio devido o alto custo da energia no Brasil expressa a preocupação dos produtores locais de alumínio. Para o setor, o país corre o risco de virar importador do metal.
por Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico