Pequenos fabricantes de refrigerantes se unem e desenvolvem junto a Verallia uma garrafa de vidro exclusiva
Varia muito a maneira como o empreendedor Marcelo César de Carvalho, de 62 anos, sócio da fabricante de bebidas Itamonte, no sul de Minas Gerais, enxerga os outros empreendedores de seu setor de atuação. Uma hora eles são seus competidores ferrenhos. Noutra, os trata quase como irmãos. Não é que Carvalho tenha algum tipo de distúrbio de personalidade — é que, de fato, eles são as duas coisas.
Em 2008, a Itamonte e 69 pequenos fabricantes de refrigerantes de vários estados deixaram as diferenças de lado e se uniram para pedir a um produtor de embalagens de vidro que fabricasse uma garrafa exclusiva. Cada um usaria seu rótulo, mas as garrafas seriam iguais. “A padronização traria um bom custo e todos sairiam ganhando”, diz Carvalho.
Como os demais fabricantes, Carvalho estava cansado das dores de cabeça que as garrafas estavam dando. “Eles viviam quebrando, e era preciso comprar mais a toda hora”, diz ele. “Dava um trabalhão e estava ficando muito caro.” Um dia, numa reunião com outros fabricantes que tinham o mesmo problema, surgiu a ideia de encomendar uma garrafa única para todos do grupo. Eles procuraram a Verallia, fabricante de embalagens de vidro do grupo francês Saint-Gobain, e mostraram um esboço do que queriam. “Tudo foi resolvido”, diz Carvalho.
Carvalho diz que as garrafas retornáveis são importantes para uma empresa do porte da Itamonte. “As garrafas de plástico são muito práticas, mas o custo é alto demais para quem não compra uma quantidade gigantesca, como no nosso caso”, diz. “O custo da nova garrafa de vidro cabe no nosso bolso porque pode ser diluído, já que é utilizada várias vezes.” É por isso, diz Carvalho, que a Itamonte nunca desistiu do vidro ao longo dos anos. Quando estava para fazer 30 anos, Carvalho tornou-se sócio da Itamonte, fundada por seu irmão, José Marcos Carvalho, em meados da década de 70. “As garrafinhas do guaraná Mantiqueira, nosso primeiro refrigerante, saíam da fábrica nuns engradados de madeira”, diz Carvalho. “Depois, eram distribuídas de carroça.”
Para Carvalho, o acordo com a Verallia foi um momento histórico. Desde então, as vendas de refrigerantes em garrafas de vidro cresceram 60% na Itamonte e vão ajudá-la a faturar 29 milhões de reais neste ano — 10% mais que em 2009, quando o acordo entrou em prática. Com o custo menor dos vasilhames, foi possível baixar o preço final do refrigerante em 15% — o guaraná Mantiqueira de 290 mililitros, o principal item da linha, é encontrado nos supermercados hoje por 65 centavos, em média.
Fonte: exame