China estaria enviando produtos a países que não produzem a carga para entrar no Brasil sem pagar tarifas.
Em março do ano passado, uma matéria do Valor Econômico revelou um esquema de triangulação de mercadorias chinesas para driblar as tarifas antidumping brasileiras. Segundo a denúncia, a China estaria enviando peças a países que não produzem a carga, para evitar pagar a tarifa, fixada em 43% sobre o valor CIF da mercadoria. A partir de um país intermediário, os produtos são redirecionados ao Brasil, onde desembarcam sem pagar a taxa.
Representantes de setores da indústria nacional que já foram beneficiados por medidas antidumping para produtos da China entraram com um processo no Departamento de Defesa Comercial (Decom), solicitando a extensão do antidumping aos países com os quais a China triangulava.
Alguns setores industriais, como o de pincéis, ferramentas para a construção civil e o de vidros, chegaram a se unir e criaram a Comissão de Defesa da Indústria Brasileira (CDIB), na busca por uma maior notoriedade.
No setor de vidros, de acordo com matéria do Diário do Grande ABC, o ataque de produtos chineses vêm obrigando algumas companhias a se reinventarem. Perto dos seus 45 anos, a Ibravir, pequena indústria de vidros de São Bernardo, teve como principal defesa investir em desenvolvimento de novas peças e equipamentos que proporcionem menor agressão ao meio ambiente, partindo para um nicho específico de mercado, o sustentável.
Mas o impacto dos orientais na empresa foi grande. O gerente comercial, Paulo Sérgio Simões de Souza Júnior, lembra que o aumento evidente de vidro chinês no País derrubou em 40% o faturamento que tinha com blocos de vidro. Muito utilizado em muretas para elevar a iluminação dos ambientes, esse tipo de produto é vendido em todos os países em tamanho padrão, característica que facilita a atuação dos concorrentes do outro lado do mundo.
Em alguns momentos, nos últimos anos, chegaram a até importar blocos da Indonésia. “Mas não conseguimos acompanhar os preços dos produtos chineses”, afirmou Souza Júnior. Os blocos importados entram no País com preços de, aproximadamente, US$ 1,50, o que tira toda a competitividade da indústria nacional, já que esse é o custo inicial aproximado para produzir no País.
A solução para a Ibravir foi elevar esforços em outro ramo que é especialista, o de telhas. “Procuramos investir em qualidade e em outros produtos como, por exemplo, os novos modelos de telhas de vidro.” Hoje, com 80 trabalhadores, ampliou também a atuação nos ladrilhos, que servem para pisos ou lajes. E inovou os blocos, criando modelos vazados.
Em São Bernardo está localizada também uma das maiores empresas nacionais do setor de vidros, a Wheaton Brasil. Cerca de 2.750 funcionários atuam na produção de vidros para utilidades domésticas e para áreas de cosméticos e farmacêutica. A empresa ingressou no município em 1962.
Diretor comercial da Wheaton, Renato Massara conta que a companhia tem 70% de participação no mercado nacional de vidros para cosméticos e farmacêuticos e 15% em utilidades domésticas. Essa fatia seria maior, caso os produtos chineses não tomassem tanto espaço. “Somos especialistas em vidro de penicilina (droga que compõe a famosa e dolorosa injeção benzetacil). O Brasil demanda 20 milhões vidros por mês. E os chineses entraram forte nisso. Hoje temos apenas 20% da participação de mercado”, revelou.
Massara diz que vende um vidro deste tipo por cerca de R$ 0,10. “Os chineses, não faço ideia de como conseguem, chegam por meio de importadores com o produto à R$ 0,05”, explicou. A Wheaton, segundo o gestor, fornecia para 52 países. Hoje, esse número quase zerou. “Precisávamos de mais incentivos do Governo”, pede Massara. Ele explicou que para alguns produtos existem proteções, no caso dos utensílios domésticos. Mas especificamente no segmento de copos, por exemplo, não há. A empresa coloca no mercado uma unidade por, aproximadamente, R$ 0,50. “As importações, não só da China, mas da Índia também, chegam aqui no mínimo por 40% menos.”