Uma das maiores empresas do setor de fibras de vidro no mundo, chinesa CPIC tem caminho livre para compra de unidade da Owens
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) do Ministério da Justiça aprovou, por unanimidade, a compra da fábrica de reforços de fibra de vidro da Owens Corning pela chinesa Chongqing Polycomp International Corporation (CPIC). A fábrica fica em Capivari (SP) e o negócio marca a entrada dos chineses no ramo de fibras de vidro no Brasil.
O negócio com a CPIC só foi possível porque, em julho de 2008, o Cade vetou a compra da Compagnie de Saint-Gobain, unidade de fibras de vidro do grupo francês, pela Owens Corning. A união da Saint-Gobain com a Owens foi vetada porque o órgão antitruste verificou que havia risco de monopólio no setor. As duas empresas são as únicas fabricantes de fibra de vidro no Brasil.
Em 2008, Fernando Furlan, o atual presidente do Cade, era o relator do processo. Na ocasião, ele concluiu que a fábrica de Capivari deveria ser vendida para uma empresa independente da Owens e da Saint-Gobain. Além disso, Furlan entendeu que a compradora deveria ter atuação no mercado de fibras de vidro. Ele também determinou que o nível de investimentos na unidade de Capivari e a base de clientes fossem mantidos até a venda para um terceiro concorrente da Owens e da Saint-Gobain.
Num primeiro momento, a Owens recorreu à Justiça contra a determinação do Cade. Mas, em setembro, a 20ª Vara Federal do Distrito Federal confirmou a decisão antitruste e, com isso, a empresa se viu obrigada a vender a fábrica de Capivari para um concorrente.
A CPIC se interessou pelo negócio. A direção da Owens acabou aprovando-o em reunião da diretoria da empresa realizada em Toledo, Ohio, nos Estados Unidos, em fevereiro. Com a obrigação de se desfazer da fábrica de Capivari, a Owens vai concentrar as suas atividades na fábrica que tem em Rio Claro, também no interior paulista.
Para Vicente Bagnoli, advogado que representa os chineses, a compra da fábrica da Owens “representa uma oportunidade de negócio à CPIC”. Segundo ele, a empresa “passará a atuar diretamente no mercado brasileiro de reforços de fibras de vidro, produzindo em território nacional, comercializando tais produtos, prestando suporte técnico e incentivando a inovação junto aos clientes, além de estimular novas aplicações do produto”.
A preocupação do Cade com a competição no setor se justifica, pois a fibra de vidro é matéria-prima para uma série de indústrias. A indústria automotiva utiliza as fibras para fazer amortecedores. Já o setor de construção fabrica painéis de fachadas e portas de entrada para residências a partir de fibras de vidro.
O órgão antitruste concluiu que um domínio no setor poderia levar a um aumento da matéria-prima para diversas industriais, o que subiria os preços dos produtos finais para os consumidores. Em resumo, os conselheiros do Cade verificaram que combater o monopólio no setor de fibras de vidro tem o objetivo não apenas de manter a competição, mas também de contribuir com o combate à inflação no Brasil.
A Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda recomendou ao Cade a aprovação da compra da fábrica da Owens pelos chineses. No parecer, a Seae informou que a CPIC é uma “joint venture” formada pelos grupos Yuntianhua, que atua no setor químico na China; Carlyle, de investimentos globais; e Amiantit, que concentra as suas atividades no setor de tubos, na Arábia Saudita. No Brasil, os produtos da CPIC entram através de importadores independentes. Agora, a empresa deverá contar com uma fábrica no interior paulista para expandir a sua produção.
Fonte: Valor