Brasileiros investem em móveis com design e qualidade

Impulsionados pelo crescimento da renda e longos parcelamentos, classes C e D passaram a personalizar seus móveis

São Paulo – A casa do brasileiro das classes C e D está mais bonita. O mobiliário, que até alguns anos atrás se resumia ao pouco que o mercado popular tinha a oferecer, agora é escolhido com critério. De olho nesse público, que nos últimos anos ganhou informação e viu aumentar seu poder de compra, as grandes redes passaram a facilitar o crédito e a investir pesado em móveis, que, se não competem em qualidade e tecnologia com o que de melhor existe na praça, pelo menos buscam se aproximar de um modelo mais bonito, copiando o design feito para as classes mais altas.

Seguro pelo crescimento da renda e pela possibilidade de longos parcelamentos, esse público quer ter o que ver na propaganda maciça. A cozinha tem de ser planejada. A linha branca, que, com a política do governo, ganhou preços mais acessíveis, enterrou de vez fogões e geladeiras azuis, beges e vermelhos. O jantar ganhou mesas mais leves, em que o vidro se impõe. O guarda-roupa deu lugar a armários com portas de correr e as camas box viraram mania e são vendidas até em redes de supermercado. Surgiram os home offices e os home theaters e até os banheiros planejados entraram na onda.

Uma das mais tradicionais marcas de móveis planejados do Brasil, a Dell Anno fabrica cozinhas, dormitórios, closets, home offices e banheiros. É a marca premium do Grupo Unicasa, que tem sede em Bento Gonçalves e existe há 25 anos. Há 14 anos o grupo decidiu ampliar seu leque de atuação e lançou a Favorita, voltada para a classe B. Há um ano e meio, criou a New para a classe C. O crescimento da nova marca é acelerado. A expectativa é que a New feche o ano com 380 lojas espalhadas pelo País, mais do que a Dell Ano (300) e a Favorita (370). O faturamento, que no ano passado foi de R$ 22 milhões, este ano deve passar para R$ 80 milhões.

O presidente do Grupo Unicasa, Frank Zietolie, acredita que esse público tinha um forte desejo por personalizar seus móveis, opção que não é oferecida nos magazines que esses consumidores costumam frequentar. “Buscamos aquilo que o consumidor da classe C desejava, mas não encontrava nas lojas voltadas para ele. As magazines costumam vender móveis com um jeito muito ‘pop’, com muitas cores. Nós oferecemos um produto mais moderno, com design e praticidade. Não é porque é direcionado para a classe C que o produto tem de ser econômico e feio.”

Os produtos da New são até 40% mais baratos do que os da Dell Anno. O tíquete médio varia de R$ 3 mil a R$ 10 mil. Na Favorita, de R$ 7 mil a R$ 15 mil e na Dell Anno, de R$ 15 mil a R$ 40 mil.

Sofisticação

Gigante no setor de móveis populares, a Indústria Bartira, pertencente ao Grupo Casas Bahia, vem se empenhando em sofisticar sua linha. Este foi o segundo ano em que os profissionais da empresa estiveram no Salão do Móvel de Milão, na Itália, em busca de tendências internacionais e novidades com relação a design, tecnologia e fabricação de móveis.

Jonas Victor Vieira, diretor de Móveis da Casas Bahia, diz que hoje, para os consumidores das classes C e D, o design, a beleza e a modernidade são tão importantes quanto a qualidade e o preço atrativo. “Antes, o campeão de vendas nas lojas era um modelo de cozinha compacta, de três peças, cujo preço girava em torno de R$ 199. Hoje, a mais vendida é uma cozinha modulada, muito similar às cozinhas planejadas disponíveis no mercado, cujo preço gira em torno de R$ 699. Este modelo tem trava de aço nas cantoneiras, puxadores, pistão a gás e verniz UV, que não deixa o produto se desgastar sob a ação de limpeza ou de sua exposição ao sol. Isso é um exemplo prático das exigências dos consumidores das classes mais populares que procuram produtos maiores, mais bonitos e de qualidade”, diz.

Oferecer produtos de maior qualidade tem sido mesmo fundamental para uma empresa se destacar num mercado em que a concorrência é cada vez maior. O arquiteto Daniel Camera, sócio do Projeto 3, estúdio de design de Bento Gonçalves – o maior polo moveleiro do País, com 370 fábricas -, trabalha para oito grandes empresas, todas com foco no mobiliário popular. A Projeto 3 planeja cozinhas, dormitórios modulados, racks e móveis para escritório. Há anos no setor, ele diz que nunca viu tanta competitividade. “Hoje, quem quer fornecer para grandes redes tem de ter o melhor maquinário, trabalhar com bons profissionais do desenho industrial e fazer um móvel ao mesmo tempo prático, com boa ergonomia e bom preço”, afirma.

Sofás, no entanto, ainda são um caso à parte, segundo Camera. Ele acredita que os modelos com muita espuma, braços grandes e arredondados, encosto mais alto e costuras ainda são clássicos para as classes C e D. “Para o público popular, o muito simples, o reto, não passa sensação de conforto. E o lojista também demora a assimilar o que a classe B está usando agora, por exemplo. O popular mesmo é fiel às formas orgânicas, ao verniz de alto brilho e aos detalhes cromados, que na sua concepção passa uma sensação de ordem e limpeza.”

Fonte: Estadão