Materiais isolantes entraram na onda da sustentabilidade e alguns já são rotulados com o selo verde
Grandes empresas estão investindo em produtos mais sustentáveis para todas as etapas de sua obra. É o caso também dos materiais isolantes, desenvolvidos para proteger as construções do calor ou frio excessivos e, assim, garantir ambientes mais confortáveis termicamente. Já existem alternativas às opções mais comuns (como as lãs de rocha e de vidro, por exemplo), que, segundo a arquiteta Alessandra Caiado, do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE), contêm substâncias potencialmente prejudiciais à saúde de quem manuseia os produtos durante a instalação ou demolição de estruturas “recheadas” com estes materiais. A seguir, conheça alguns desses produtos e, depois, descubra por que a especialista em materiais sustentáveis está sempre atenta aos selos verdes.
Películas para vidros
Da 3M, a película transparente da linha Prestige é indicada para reduzir o calor em ambientes internos. Ela possui nanotecnologia que bloqueia 97% dos raios infravermelhos e quase 100% dos raios ultravioleta, garantindo construções mais frescas e economia de energia com sistemas de refrigeração. Preço sugerido: R$ 220 o metro quadrado instalado. Contato: tel. SAC 0800 013 23 ; www.3mconstrucaocivil.com.br
Vidros de controle solar
A Cebrace oferece linhas de vidros especiais para fachadas, coberturas, janelas, portas e varandas, que bloqueiam até 52% da entrada do calor sem barrar a luz natural. O Eco Lite tem baixa reflexão e aparência de vidro comum, o que reduz o aspecto espelhado da fachada. Preço: a partir de R$ 93,52 o m² na cor verde, com 4 mm de espessura, na Divinal Vidros – Tel: (11)-2827-2100 / (11)-2827-2100. Outra opção é o Cool Lite SKN (preço sob consulta), de última geração que, quando instalado como vidro duplo, isola até cinco vezes mais do que um vidro monolítico transparente. Contato: tel. SAC 0800 72 84 376; www.cebrace.com.br.
Manta de fibra de coco
O produto da Coquim vem em placas de 1 x 1 m, com espessura de 25 mm e de 50 mm. Funciona como isolante termoacústico e pode ser aplicado em tetos, paredes e pisos. Produzido na cor natural, recebe tratamento retardante de chamas e tem durabilidade média de cinco anos. Preço: R$ 75 o m² (25 mm de espessura) e R$ 140 o m² (50 mm de espessura). Contato: tel. (11) 4811-1665 (11) 4811-1665 , Franco da Rocha, SP; www.coquim.com.br.
Lã de pet Isosoft
Na fabricação, a matéria-prima utilizada são garrafas de PET que viram placas e rolos de material isolante e hipoalergênico, com diferentes densidades e espessuras. A novidade é da Trisoft e pode ser aplicada em projetos de drywall e steel frame, em coberturas de galpões, postos de combustível e demais edificações. Quando aplicada em pisos, oferece excelente desempenho acústico. Preço: a partir de R$ 7 o m², com 15 mm de espessura. Contato: tel. (11) 4143-7900 (11) 4143-7900 , Itapevi, SP; www.trisoft.com.br.
“Desconfie e investigue sempre!”
Essa é a dica da arquiteta Alessandra Caiado, especialista em analisar materiais rotulados como sustentáveis. Nesta entrevista, ela conta por que tem restrições em relação aos selos verdes para materiais de construção.
A oferta de materiais sustentáveis está aumentando no Brasil?
De certa forma, sim, mas nem todos os produtos apresentados como verdes têm características realmente sustentáveis. O grande problema é que, na maioria das vezes, são as próprias empresas fabricantes que autoclassificam seus produtos como verdes, mas com uma argumentação fraca, que enumera vantagens ecológicas sem comprovações adequadas. Muitos vendedores apresentam seus produtos sem saber corretamente por que eles são considerados sustentáveis por seus fabricantes.
E quanto aos selos verdes?
Tenho restrições em relação aos selos verdes para materiais de construção que englobam várias vantagens ambientais (nível de toxicidade, consumo energético, reciclagem etc.), sem que isso fique claro e transparente para consumidor. Isso não ocorre, por exemplo, com o selo do FSC, que certifica especificamente que determinada madeira foi extraída de florestas com manejo sustentável. Também há casos de produtos considerados sustentáveis que, se mal utilizados, perdem suas vantagens ecológicas. O tijolo de solo-cimento, por exemplo, é interessante quando usado como alvenaria estrutural. Se ele é empregado como vedação apenas, perde pontos no quesito sustentabilidade. Da mesma forma, se um produto é considerado verde mas não é fabricado na região onde será aplicado, pode ser melhor optar por um similar produzido localmente, ainda que não tenha certificado verde. Há ainda o problema dos produtos que ficam na moda por períodos curtos de tempo e podem não ser encontrados daqui a alguns anos, em caso de reformas. Mesmo que tenha o selo, o melhor é optar por produtos atemporais, como madeira, tijolo e outros que nunca saem de cena e são facilmente encontrados, o que permite reposição parcial e não total, quando necessário.
O que poderia ser uma alternativa aos selos?
O ideal seria que os materiais de construção tivessem uma tabela com indicadores de sustentabilidade. Seria mais ou menos como as tabelas nutricionais dos alimentos, mas só que no setor da construção ela indicaria, por exemplo, o percentual de componentes reciclados ou o percentual de conteúdo rapidamente renovável. Assim, o consumidor teria condições de comparar os produtos e comprar de forma mais consciente. Além disso, a tabela teria de ser resultado da avaliação de uma entidade independente, que certificaria o que o fabricante está dizendo.
Em relação aos selos verdes, qual seria a vantagem da tabela?
De modo geral, a tendência de um fabricante que adquire um selo verde é estacionar suas possibilidades de melhorias, ficar engessado, como se já tivesse atingido o limite em termos de sustentabilidade. A tabela, ao contrário, abriria as possibilidades de melhorias constantes dos produtos, já que a transparência estimularia os fabricantes a investir mais e mais na sustentabilidade, para se diferenciar no mercado.
Já existe alguma mobilização do setor nesse sentido? Como isso poderia ser viabilizado?
Ainda não há nada em discussão no Brasil. Seria preciso estabelecer indicadores de sustentabilidade e uma norma padrão para cada produto e listar os laboratórios capacitados para a realização os testes. Dessa forma, todos os produtos seriam avaliados de acordo com os mesmos critérios – e não como ocorre com os selos, que têm critérios próprios e diferentes entre si. Hoje, se dois produtos têm selo verde, isso não significa que eles sejam igualmente sustentáveis.
Que dicas você daria aos consumidores, então?
Em primeiro lugar, buscar produtos com garantias e boa durabilidade, preferencialmente produzidos localmente. Também é interessante que o consumidor mantenha certa desconfiança em relação aos selos verdes, buscando coerências e provas de suas declarações sustentáveis e, por fim, questionando os argumentos do fornecedor.
Fonte: Casa Abril