A nova arquitetura dos shoppings

Os shoppings passaran de caixas fechadas a lugares abertos que supõe paisagismo e iluminação natural

A nova arquitetura dos shoppings
O shopping Granja Viana, recém entregue pelo grupo BRMalls, recebeu cerca de 1 mil metros quadrados de skylights

Vai longe o tempo em que a visita a um shopping center significava entrar numa “caixa preta”, hermeticamente fechada, sem luz natural ou contato com o exterior. Segundo Heloisa Bonfim, business developer da área de shoppings da Dalkia Brasil, subsidiária da Veolia Environnement e da Electricité de France (EDF), que presta serviços energéticos no mercado europeu, “a intenção, nesses empreendimentos, era que o cliente perdesse a noção do tempo e possivelmente comprasse mais.”

Hoje, segundo ela, o consumidor não aceita mais estar num ambiente sem saber se faz sol ou chuva lá fora. Além disso, do outro lado do balcão, há imperativos como otimização da obra e eficiência energética do prédio, ou seja, tempo de construção e conta de água e luz. Em outras palavras, sustentabilidade.

“A conceituação dos shoppings mudou”, diz o arquiteto Alberto Botti, da Botti Rubin, escritório responsável pelo shopping Aricanduva, entre outros. “Eles passaram de caixas herméticas a locais mais abertos, com áreas verdes e espaços naturalmente iluminados.”

Para atender a este novo conceito, a moderna arquitetura de shoppings supõe pé direito alto, corredores amplos, paisagismo, clarabóias e iluminação natural (skylights), além de sistemas automatizados e materiais de construção de última geração.

Em São Paulo, o shopping Granja Viana, recém entregue pelo grupo BRMalls, reúne algumas dessa tendências: skylights totalizando cerca de 1 mil metros quadrados incorporados a um projeto de fácil circulação, extensa área verde com árvores centenárias e estação de tratamento de água e esgoto própria, com reaproveitamento em sanitários e ar condicionado.

“O momento de pensar na sustentabilidade da obra é na hora em que ela é projetada”, diz Marco Antônio Saidel, professor da Escola Politécnica da USP. Da criação de poços de infiltração em estacionamentos horizontais, para escoamento da água, à cor do piso, tudo deve atender à otimização. E a escolha de equipamentos inteligentes e sistemas de automação predial, visando eficiência e redução do consumo de recursos naturais como água e energia, não podem mais ser preteridos.

Ainda na planta, arquitetos e engenheiros podem lançar mão das estruturas de concreto pré-montadas, que conferem velocidade à construção e têm baixo impacto ambiental, porque dispensam o uso de betoneiras e não geram resíduos, diz Luiz Henrique Ferreira, diretor da Inovatech Engenharia e um dos idealizadores do conceito Casa Aqua de sustentabilidade.

Estruturas de metal pré-montadas são outra alternativa, segundo ele, porque permitem montar e desmontar o prédio, sem necessidade de implosão ou de demolição. Painéis de vidro e outros materiais para cobertura e revestimento, que têm como característica produzir energia, também podem ser considerados nesta fase do projeto, afirma Antônio Paulo Cordeiro, da CDCA Arquitetos.

Outro aspecto a se levar em conta, ressalta Marco Antônio Saidel, é a biodinâmica do prédio – sua posição em relação ao sol e à ventilação natural -, que substitui a prática de copiar os grandes arranha-céus envidraçados americanos, que tinham algum apelo comercial mas nenhuma sustentabilidade em países de clima tropical.

Apesar do nome, o New York City Center, no Rio de Janeiro, é, neste sentido, o anti-shopping americano: considerado modelo de uso inteligente de energia, apoia seu projeto arquitetônico numa ampla área aberta, com pé-direito de 35 metros, e cobertura de lona branca de 5.400 metros quadrados, que favorece a luz e a ventilação naturais, dispensando o uso de ar condicionado. A cobertura de lona impede a entrada de calor e reflete a claridade, iluminando o ambiente – o que faz com que a conta de luz fique, segundo a Multiplan Empreendimentos Imobiliários, cerca de 20% mais barata.

Consideradas uma das maiores preocupações dos construtores e lojistas, as soluções de eficiência energética fazem a grande diferença num shopping. “Se considerarmos que ele fica aberto ao público sete dias por semana, 12 horas por dia, com luzes acesas, vitrines iluminadas, escadas rolantes e ar condicionado funcionando, veremos que um shopping é um grande sugador de energia elétrica”, diz Luiz Henrique Ferreira.

Vila Olímpia
No Shopping Vila Olímpia, além das clarabóias, a Multiplan não dispensou o uso de vidros low-e

Pisos e telhados brancos, em substituição aos antigos de granito cinza e preto, são uma exigência, diz Heloisa Bonfim. “Quanto mais alto o nível de brilho do piso, mais ele vai refletir a luz solar e melhorar a sensação de iluminação, se comparado com um material fosco e opaco”, sustenta. “O telhado branco, por sua vez, interfere no índice calorífico interno, provocando redução de até 4° C no ambiente, o que melhora o desempenho do ar condicionado e reduz o consumo de energia. “Vidros de alto desempenho energético (low emissivity glass), que permitem a entrada de luz mas refletem o calor, exigem menos do sistema de refrigeração; lâmpadas inteligentes e sistemas de ar condicionado por centrífuga são outras opções para um projeto de sustentabilidade energética.

Em São Paulo, no Shopping Vila Olímpia, além das clarabóias, a Multiplan não dispensou o uso de vidros low-e. No Morumbi Shopping, pretende fazê-lo em 2011. “Este tipo de vidro reflete 60% do calor gerado por irradiação e proporciona uma economia de cerca de 5% no uso do ar condicionado”, calcula Henrique Wendriner, diretor de operações. Da mesma forma, o Shopping Anália Franco conta com um sistema que permite programar, eletronicamente, os sistemas de iluminação no início e no fim do expediente. “Um estudo realizado em 2008 no BarraShopping, do Rio, apontou que esta automação gera economia de R$ 500 mil ao ano”, diz.

Fonte: Valor Econômico