Histórias da mística arte em vidro Murano

Independente das polêmicas e versões que cercam o culto ao vidro Murano, a certeza é que seu brilho, formas e cores se mantém vivos há séculos

Vasos Decorativos em Vidro Murano
Vasos decorativos em vidro Murano
 

O surgimento do vidro, data de 5000 AC, de acordo com a lenda contada por Plinio, um historiador romano. Por esta data, um grupo de mercadores fenícios desembarcou em uma praia do Rio Belo, na Síria. Para prepararem um alimetno, acenderam um fogo nas margens do rio e para apoiarem as suas panelas utilizaram alguns blocos de sal que faziam parte da carga de seu navio. Para sua surpresa, estes blocos de sal ao misturarem-se com a areia (silica) e pela ação do calor do fogo, fundiram-se, formando uma pasta viscosa que quando esfriou-se, transformou-se em uma espécie de pedra, dura e lisa: o vidro. Estas “pedras” eram muito valorizadas e somente os nobres ou famílias muito abastadas tinham condições de adquirí-las.

Os vidros mais antigos que se tem notícia foram encontrados na região da mesopotâmia (Siria) e datam de 2500 AC..Eram fragmentos de vidro azul.

A indústria vidreira, começou com a vinda de vidreiros da Ásia, capturados por Tumés III, faraó egípcio. A arte do vidro era tão importante que os vidreiros eram vigiados e recebiam tratamento especial. A indústria vidreira egípcia alcançou seu apogeu entre 1.587 /1.327 AC.

Na época inicial a técnica usada era o núcleo de areia onde a peça era trabalhada em volta de uma espécie de forma de areia. Quando o trabalho estava concluido, a forma era eliminada.

No séc II AC. a invenção da cana de assoprar vidro foi uma revolução no sistema de fabricação. Permitiu concepções muita mais artísticas, pois, nos primórdios da fabricação, o vidro tinha um uso muito limitado, usando-se como imitação das pedras preciosas quando somente se fazia jóias com a utilização das placas e pedras de vidro.

Somente após a vara de assoprar é que foram fabricados potes, garrafas, vasos, que passaram a ser considerados objetos de luxo.

A história conta que os primeiros vidros Murano foram produzidos em Roma no século IX, sob uma forte influência das culturas asiática e muçulmana. Depois de um tempo, os artesãos migraram para Veneza, por ser mais simples de transportar e vender suas peças através do porto da cidade.

Reza a lenda que um alerta de incêncio geral na região fez os artesãos se mudarem para a Ilha de Murano, na região dos lagos venezianos. Mas a versão defendida pelos historiadores é que em 1290, o governo resolveu criar uma lei: todas as fábricas de vidro da cidade iriam para a ilha de Murano. Seria o único jeito de guardar um segredo fundamental para sua economia. Aos poucos, dizem relatos históricos, os artesãos foram proibidos de deixar a ilha.

Era de tanta importância esta fabricação, que os mestres vidreiros passaram a ser vigiados e confinados em Murano. De lá não podiam sair para que não transmitisse seu precioso conhecimento. Aqueles que tentavam escapar eram condenados à morte, assim como, toda a sua família. Porém, aqueles que conseguiam fugir eram considerados mestres nos outros países e acolhidos com muitas honrrarias.

Assim, Murano, durante séculos, tornou-se o centro da produção de vidros, oferecendo ao mundo trabalhos de rara beleza, e com o tempo, os objetos e jóias criados a partir desta técnica de soprar o vidro se transformaram em objetos de desejo. Nascia assim o culto ao vidro Murano.

Um dos segredos que tornava o vidro italiano diferente de qualquer outro produzido na Europa, era a adição de soda cáustica após o derretimento da areia. O processo deixava o vidro mais claro, leve e fácil de manusear, podendo ser moldado com formas diferentes. Os artesãos também aprenderam técnicas sofisticadas para inserir diversas camadas de cores nas peças, nunca antes vistas.

A arte em vidro produzida na região italiana era restrita a algumas famílias de artesãos, que passavam os segredos de geração em geração, costume que dura até os dias de hoje. Vidros com rajadas douradas (aventurine), multicoloridos (millefiori), leitosos (lattimo), avermelhados (corneliano), com aspecto de mosaico e turquesa, entre outros, os Murano são lindos e únicos. Para homenagear a importância do vidro para Veneza, a ilha de Murano possui o Museo Vetrario, que conta toda a história da produção das peças na região desde o princípio.

 

Vidro Murano no Brasil

A história do vidro Murano no Brasil começa, de certa forma, ao sul da Itália, na ilha de Murano. Ali cresceu Aldo Bonora, um dos grandes nomes na fabricação desse tipo de vidro e responsável por disseminar a técnica artesanal por diversas regiões do mundo.

No Brasil, dois garotos de Minas Gerais tiveram contato com Bonora e herdaram o conhecimento milenar que envolve desde o manuseio de instrumentos à sensibilidade para a concepção de peças únicas. Em 1962 a Cristais São Marcos foi fundada em Poços de Caldas, tendo à frente Antônio Carlos e Paulo Molinari, legítimos mestres-vidreiros que hoje exportam para mais de 40 países e já conquistaram até mesmo a terra natal do cristal tipo Murano.