Simples soluções arquitetônicas e especificação adequada dos vidros ajudam a melhorar o conforto térmico e acústico da edificação
A fachada é a grande área exposta de uma edificação. Também é por ela que se fazem as trocas entre o interior e o meio externo – calor, luz, ruídos e a comunicação visual com o entorno. Por isso, especificar seu material de fechamento será determinante no bom ou mau desempenho de todo o projeto, dentro de cada programa de uso proposto.
Por isso, antes de especificar o uso do vidro, especialistas e arquitetos experientes recomendam algumas práticas de estudo que utilizam recursos variados, desde o sombreamento natural, com árvores ou implantação bem elaborada, até o desenvolvimento de sistemas de brises e telas.
“A insolação é o primeiro item de estudo, e se a solução for o vidro, a orientação solar terá de ser a mais correta possível, para o mínimo de incidência direta, em um país tropical como o nosso”, avalia o arquiteto Luiz Paulo Andrade.
PROJETOS RESIDENCIAIS
No caso das construções residenciais, as soluções são menos complexas. Primeiro, porque edifícios residenciais tendem a ter parcela menor da fachada coberta com vidro. Segundo, porque há uma maior variedade de soluções arquitetônicas disponíveis para barrar a luz e o calor – como telhados com grandes beirais, terraços sombreados e a presença de vegetação. “O uso de venezianas é a melhor solução, no Brasil ou em outros países tropicais, para o controle térmico residencial, já que bloqueiam o calor antes que ele adentre áreas internas”, afirma o consultor de fachadas Paulo Duarte.
Caso não seja possível prever elementos externos de proteção contra a entrada de luz (e, consequentemente, do calor) pode ser necessária a especificação de vidros especiais para controle solar seletivo, que possibilitem a redução dos custos com o ar-condicionado sem perder a iluminação natural.
EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS
O problema que tange às edificações corporativas, no entanto, é infinitamente maior – e de solução mais complicada – que o das residências, já que o vidro fecha áreas maiores da fachada. “A iluminação natural em ambientes de trabalho é condição essencial de bem-estar e conforto dos que passam o dia dentro do escritório”, justifica Duarte.
Para o arquiteto, a primeira alternativa é propor soluções externas de sombreamento, como quebra-sóis ou brises. Poluição e sujeira, porém, são fatores limitantes, pois podem complicar ou encarecer demais a limpeza da fachada. Nesses casos, os elementos bloqueadores podem ficar afastados dos painéis de vidro.
Se a quantidade de calor que passa pelo brise e chega ao vidro ainda é muito grande, o projetista terá de considerar o uso de um vidro especial que reflita luz, em menor grau, e calor, em maior grau.
Vidros transparentes coloridos já possuem algum controle solar. “O vidro verde é o que apresenta, para o Brasil, o melhor balanço entre passagem de luz e controle solar, aquecendo menos que os vidros bronze ou cinza”, informa o consultor.
Os primeiros vidros refletivos, muito difundidos na década de 1970, refletiam não só o calor, mas também todos os espectros de luz – do ultravioleta aos tons de vermelho e marrom. Com o surgimento dos low-e (baixo emissivos) para climas frios, onde a intenção é trazer a radiação infravermelha para dentro (fator solar alto), uma nova luz apareceu no fim do túnel. “Pudemos dosar essas características emissivas e refletivas para a situação climática dos trópicos, desenvolvendo vidros seletivos que refletem menos luz e mais calor”, conta. Mais caros, porém mais eficientes, são os produtos mais seletivos que acabam funcionando melhor nas grades peles de vidro para escritórios.
Se dispuser de orçamento maior, o arquiteto pode especificar fachadas de vidro duplas com um sistema de quebra-sol enclausurado. Apesar de pouco usada, a tecnologia é uma opção para aumentar a durabilidade da fachada, já que o sistema de sombreamento é protegido contra a sujeira. A limpeza pode ser feita por meio de um acesso pela fachada interna.
BARULHO: OUTRA VARIANTE
Isolar ruídos também é uma função de fachada que precisa ser equacionada com outros fatores, como segurança, luz e calor. Nesse item, o vidro deve agir como barreira, e a física dita que quanto mais espessa for a camada de vidro – ou quanto maior for sua massa -, mais isolante será em relação ao barulho.
Para especificar vidro antirruído, no entanto, deve-se saber exatamente que tipo de barulho e em qual nível de frequência ele terá de ser isolado. “O som de um helicóptero é diferente do som do tráfego. Tudo tem que ser medido durante a fase de projeto”, alerta o consultor Paulo Duarte. Em um dormitório, considera-se o nível de 35 dB confortável, e em escritórios, 45 dB.
Assim, para que dois vidros separados por uma câmara de ar atuem como isolante acústico, é preciso que o afastamento entre as lâminas seja de pelo menos 10 cm. “Essas janelas com câmaras de ar milimétricas, vendidas como instrumento de tratamento acústico, são um mito. Foram desenvolvidas em países frios para retardar a perda de calor gerado por calefação para o meio externo”, explica o consultor.
O isolamento acústico deve ser feito com vidros laminados ou monolíticos grossos. “Podem ser dois vidros fundidos a uma camada de PVB. O mercado já oferece inclusive opções de PVB acústico”, explica Paulo. Se for laminado, a escolha de vidros com espessuras diferentes aumenta a eficiência acústica do sistema. “Um de 4 mm e outro de 6 mm funcionam melhor que dois vidros de 5 mm, pelo fato de espessuras diferentes filtrarem níveis variados de ruídos.” Da mesma forma, camadas de PVB podem ser múltiplas, potencializando o bom desempenho acústico do vidro.
Redoma de vidro
Com arquitetura original de Oscar Niemeyer e fechamento com vidro importado da Alemanha, a Catedral de Brasília passou por importante recuperação de seus 16 gomos de fachada, cada um contendo 365 peças trapezoidais e irregulares, totalizando 5.900 peças de vidro (aproximadamente 3.000 m²). “O lado externo recebeu vidro SKN, e o lado interno, distante 17 cm da pele de vidro, os vitrais”, explica José Guilherme Aceto, da Avec Design. O vidro laminado SKN, de 10 mm, apresenta alta transmissão luminosa (50%) e um baixo coeficiente de sombreamento (0,38), reduzindo em 62% a entrada da energia solar. Foi utilizada a técnica do Vidro Encapsulado em Silicone (VES), que é um ‘caixilho sintético’ em perfis de borracha de silicone HTV (Vulcanizada a Alta Temperatura), aplicada ao perímetro das peças. As bordas ficaram assim protegidas, com cor, dureza e desenho apropriados ao perfeito acoplamento com a estrutura. “Há ainda uma fixação mecânica, por garras e presilhas de aço inox. Foram eliminadas todas as fixações externas aparentes.”
FICHA TÉCNICA
CATEDRAL DE BRASÍLIA
ÁREA ENVIDRAÇADA 3.000 m²
CONSTRUÇÃO Consórcio Tensor (RJ) e Concrejato (SP)
VIDROS Fanavid/Cebrace
VITRAIS Lamberts
CONSULTORIA EM VIDROS Paulo Duarte
RESTAURAÇÃO METÁLICA Spectro Pinturas
RESTAURAÇÃO DE VITRAIS Marianne Peretti
EXECUÇÃO DE VITRAIS Luidi e Gonçalves Vitrais (RJ)
INSTALAÇÃO DE VIDROS Avenc Design, Cevacom, Cristalmais
Casa de praia
Uma casa no litoral paulista tem uma de suas fachadas voltadas para o mar. Segundo o projetista Luiz Paulo Andrade, desejava-se ampliar o living da casa, integrando-o com essa área externa de lazer. Para tanto, usou um sistema com sete portões-guilhotina fechados em painéis de vidro laminado de 2,5 m x
2,5 m e 16 mm de espessura cada, colados ao caixilho com silicone. “Como se trata de uma fachada sudeste, ela recebe alguma incidência mais intensa de luz pela manhã, o que nos orientou a especificar vidro laminado refletivo, além de um brise de madeira, para cantos de sol mais forte”, aponta Luiz.
FICHA TÉCNICA
ÁREA CONSTRUÍDA 640 m²
LOCALIZAÇÃO Ubatuba, SP
ARQUITETURA Luiz Paulo Andrade e Felipe Scroback
ESTRUTURA Statura Engenharia
PROJETO PARA PORTÕES-GUILHOTINAS Naldi
VIDROS Divinal/Cebrace
Estilo de negócios
O New Business Style, edifício de escritórios de 17 pavimentos, fica numa parte alta de Goiânia. “A vista para a avenida em frente pediu transparência e integração do interior com o exterior”, explica a arquiteta Isabel Jácomo. “O vidro foi escolhido para a fachada por agregar valor, ao lado do ACM (alumínio composto) e do granito marrom-avermelhado”, descreve a arquiteta. A fachada oeste acabou sendo mais prejudicada, por receber incidência mais direta do sol. “Tínhamos que manter a linguagem arquitetônica das outras fachadas, e o fato de optarmos pelo vidro de controle solar seletivo minimizou o problema.”
FICHA TÉCNICA
NEW BUSINESS STYLE
LOCALIZAÇÃO Goiânia
ÁREA CONSTRUÍDA 18.239,84 m²
ARQUITETURA E INTERIORES Isabel Jácomo Arquitetura
REALIZAÇÃO EBM Incorporações e Helbor Empreendimentos Imobiliários
VIDROS Brazilglass/Guardian
Shopping-condomínio
O Shopping Cidade Jardim, próximo da Marginal Pinheiros, em São Paulo, é um centro de compras localizado em um grande residencial de alto padrão. “Fazer um shopping dentro de um condomínio é diferente de projetar edifícios corporativos, que têm calor e luz como variantes cruciais da melhor solução de fachada”, compara Julio Saez, gerente de engenharia da JHSF. Para o Cidade Jardim, foram testados vidros duplos, duplos insulados e vidros laminados com película PVB acústica. “A ordem de ruído externa foi tomada a 70 dB, e preconizamos, para o shopping, o nível de 40 dB como confortável”, conta o engenheiro. Os vidros laminados duplos (4 mm + 6 mm) com PVB acústico (e = 0,76 mm) apresentaram o melhor desempenho na situação. Os caixilhos também foram feitos sob medida, pois os vãos tinham tamanhos distintos. “Os caixilhos são preenchidos com lã de rocha, material fonoabsorvente que melhora ainda mais o isolamento antirruído.”
FICHA TÉCNICA
SHOPPING CENTER CIDADE JARDIM
LOCALIZAÇÃO São Paulo
ARQUITETURA AIC
ARQUITETURA DE FACHADAS Pablo Slemenson Arquitetura
ESTRUTURA Escritório Técnico César Pereira Lopes
PROJETO DE ESQUADRIAS E CONSULTORIA EM CAIXILHOS Mario Newton Leme
CONSULTORIA EM FACHADA Pacelli Raguebi
GERENCIAMENTO DE ENGENHARIA JHSF
ACÚSTICA Harmonia
VIDROS PVB ACÚSTICO Fanavid/Cebrace
PVB Sekisui