Lançado pela Editora UFMG, o livro ‘Hialotécnica – Arte e Vidro’ apresenta uma introdução à técnica de produzir e manusear o vidro
O profissional que trabalha com moldagem de vidro, tanto para fins decorativos como para laboratórios, é chamado de hialotecnista, uma arte de fabricar e de trabalhar com o vidro de diferentes formas.
De maneira geral, podemos dizer que o hialotecnista é um artesão, uma vez que utiliza processos manuais para moldar as peças. Entretanto, no caso específico da vidraria científica, o hialotecnista poderá ser chamado também de vidreiro científico, uma vez que é um profissional que lida com a fabricação de diversas peças para uso em laboratório.
Mas independente da área de atuação, a hialotecnia é uma atividade que exige conhecimentos dos diversos tipos de vidro e as especificidades a que se destinam. Esses fatores, aliados à vontade de oferecer subsídios a todos que praticam qualquer atividade com o vidro, propiciaram a elaboração de um livro.
Lançado recentemente pela Editora UFMG, o livro “Hialotécnica – Arte e Vidro” apresenta, em linguagem clara, uma introdução à técnica de produzir e manusear o material. “É um livro para iniciantes que oferece os fundamentos a qualquer um que deseja efetuar um trabalho técnico”, define Celso Fonseca, autor do livro e professor do Colégio Técnico com especialização em Hialotécnica
O trabalho é o primeiro livro publicado em língua portuguesa dedicado exclusivamente a hialotecnia. Segundo o autor, a ideia de escrever surgiu da dificuldade que ele mesmo possuía em encontrar materiais no nosso idioma. “Quando comecei, não tinha muita coisa a respeito da técnica. E olha que já se vão mais de 40 anos e até hoje não há nada muito concreto sobre esse tema. Então resolvi escrever o livro”, disse.
Celso também contou que, além de ser um trabalho pioneiro, o livro publicado é uma espécie de guia para quem descobriu a hialotécnica e deseja aprimorar o conhecimento. “A pessoa vai encontrar um passo-a-passo de como trabalhar o vidro. Desde explicações da temperatura certa para iniciar o trabalho, até dicas para o movimento correto das mãos na hora de utilizar as ferramentas”, explicou.
Ainda que se destine a leigos, o autor evita usar o termo “manual” para qualificar a obra. “Manual é muito fechado. O livro é como um guia, que lhe dá subsídios, mas exige que se exercite o aprendizado”. Para ele, o vidro não é um material de difícil manuseio, apenas “exigente”. É preciso, segundo o vidreiro, conhecer suas peculiaridades e saber controlá-las. “Assusta-se quando o vidro vai ao fogo e explode. Mas é claro que se eu levar uma garrafa à chama, ela vai estourar. No entanto, se sei como conduzi-la, a reação é totalmente diferente”, diz.
A obra passeia por curiosidades da história do vidro. No passado, os vidreiros detinham privilégios – isenção de impostos, por exemplo – ou benesses sociais, como relata a seguinte passagem descrita por Fonseca. “Do Baixo Império, a arte e a indústria vidreira passaram, no século 13, para a gloriosa República de Veneza, tornando-se privilegiada a tal ponto que o célebre Conselho dos Dez proibiu a saída de operários e técnicos em vidro para o estrangeiro, chegando a ponto de ameaçar com a morte todo aquele que se retirasse de Veneza”.
O livro também narra a chegada do vidro à América, em 1608. O material foi trazido por artesãos que se refugiaram em Jamestown, no estado da Virginia, nos Estados Unidos. A obra também relata as extravagâncias de Henry William Steigel, barão que gastou sua fortuna construindo uma cidade em que se pontificavam uma fábrica de vidro e casas para vidreiros. “Ele era fiel ao seu objetivo de produzir na América um vidro tão fino quanto o que era fabricado na Europa. Entretanto, os gastos foram tantos que Steigel viu sua ruína financeira. Tudo o que possuía, incluindo seus pedaços de vidro, foi vendido para pagar seus credores”.
A Hialografia no Brasil
De acordo com Celso Fonseca, a bibliografia sobre a hialografia no Brasil ainda é escassa, embora rejeite a ideia de que há pouca pesquisa sobre o assunto. “Não é este o caso. A área, por si só, acaba sendo restrita. Sobretudo porque os antigos vidreiros tendiam a esconder a ‘arte do ofício’”, explica. A ideia do livro vai no sentido oposto: evidenciar, por vezes com ilustrações e sempre em minúcias, o processo de fabricação do vidro. Em um dos capítulos, ele enumera os passos para se montar uma oficina.
O conceito de vidro, que apresenta certa complexidade, também mereceu destaque no livro. Para alguns, o material é um sólido, pois, resistente, não muda de forma; por vezes, é considerado um líquido superresfriado e também um polímero, espécie de composto químico formado por sucessivas aglomerações de moléculas fundamentais. Essa divergência conceitual não assusta Fonseca. “Quando fabricado, o vidro passa por vários estágios. Mas essas definições não são tão importantes para a hialotécnica. Só interessa ao vidreiro conhecer detalhes sobre sua composição para controlar a velocidade da dilatação e do amolecimento, por exemplo.”
O livro pode ser encontrado na Cia. dos Livros por R$ 38,17
Livro: Hialotécnica – Arte e Vidro
De Celso Pereira Fonseca e Sérgio Eustáquio Martins
Editora UFMG – 248 páginas