Após definição dos ambientes internos, arquiteto desenvolve a volumetria da casa, marcada por grandes aberturas e uma icônica caixa em madeira e vidro
Uma das principais propostas do projeto era aproveitar a declividade do lote para tirar a residência do campo de visão de quem circula pelas ruas do condomínio Quinta da Baroneza, na cidade de Bragança Paulista, a cerca de 90 quilômetros de São Paulo. De fora, avista-se somente a caixa revestida com madeira que responde pelo acesso aos ambientes internos. Além de resguardar a privacidade, essa implantação é favorecida pela ampla vista para o campo de golfe na parte posterior do lote. A paisagem gramada garante perspectiva panorâmica de qualquer ponto da casa.
Ao contrário do que faz boa parte dos arquitetos quando projetam residências, Arthur Casas definiu primeiramente necessidades e características dos ambientes internos para só então desenvolver a volumetria desta morada de dois pavimentos, marcada pela luz natural que incide em grandes aberturas, por espaços interligados e áreas de conveniência generosas e confortáveis. “Para uma casa funcionar, ela tem que ser projetada de dentro para fora. A volumetria não é meu ponto de partida”, explica o arquiteto.
Outra característica que foge à regra é a implantação, pensada para esconder a construção da vista de quem anda pelas ruas do condomínio Quinta da Baroneza, uma antiga fazenda de gado que há poucos anos foi transformada em empreendimento imobiliário e cuja paisagem é marcada por extensos gramados e grandes trechos com vegetação ainda em formação.
“Normalmente, as casas ficam mais em evidência em relação à rua. Nesse caso, a intenção era garantir mais privacidade e aproveitar ao máximo a profundidade da vista para o campo de golfe e seu entorno”, detalha Casas.
O primeiro elemento a surgir no projeto foi a caixa revestida por madeira que responde pela circulação vertical. Com grandes aberturas em vidro, ela oferece visão panorâmica da paisagem e constitui o único volume avistado da rua.
Todos os demais espaços estão voltados para os fundos do lote, situado cerca de 12 metros abaixo do nível de acesso. Essa caixa vertical divide a casa em duas alas, subdivididas como blocos horizontais sobrepostos.
O sistema construtivo é misto, com estrutura metálica na cobertura e pilares de concreto delgados que passam quase despercebidos nos ambientes. Os tijolos usados nas paredes externas foram reaproveitados de uma demolição nas proximidades do condomínio.
“A região tem muitas olarias e quis usar esse elemento e também a madeira no projeto, materiais que se mimetizam com a vegetação em formação”, esclarece o arquiteto.
Do ponto de vista de Arthur Casas, a varanda é um elemento que muitas vezes leva à subutilização dos ambientes de estar e ainda limita tanto a visão para o exterior como a luminosidade natural nos ambientes internos.
Daí a opção de unificar o estar, a cozinha e o home theater em um ambiente bastante amplo e com generosas aberturas.
“Dessa forma, a sala passa a desempenhar o papel da varanda e torna-se o espaço mais concorrido da casa. Se está calor, é só abrir as portas; se está frio, é só mantê-las fechadas”, explica.
A continuação externa dos interiores é marcada por um lado pela cobertura na forma de toldo retrátil e, de outro, pelo grande pano de vidro basculante que se abre sobre a piscina.
A integração entre os setores internos e externos completa-se ainda com o uso de grandes portas que correm embutidas nas paredes a fim de liberar totalmente os vãos.
“As pessoas buscam visão panorâmica e contato com a natureza, por isso empenas e superfícies opacas aparecem somente onde se requer privacidade”, explica o arquiteto.
A proposta de interiores reflete a busca por soluções informais e despretensiosas, mas sem a linguagem típica das casas de campo.
O resultado é uma ambientação contemporânea, mas singela e de fácil manutenção, capaz de garantir conforto aos clientes, um casal com filhos pequenos.
São poucos os materiais de acabamento usados internamente: pisos com réguas de cumaru envelhecidas, portas de madeira revestidas por laminado melamínico com microtexturas, forros de gesso acartonado e paredes pintadas com látex branco.
Texto de Nanci Corbioli
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 379 Setembro de 2011
Fonte Arcoweb