Transformada em centro de pesquisas em prol da arquitetura, Casa de Vidro de Lina Bo Bardi ainda surpreende por sua estrutura vítrea e panorâmica
A Casa de Vidro, projetada pela arquiteta italiana com alma brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992), é a pura expressão do modernismo na arquitetura. Localizada no Morumbi, a construção de 1951 era a residência dela e de seu marido, o crítico e curador de arte, ensaísta, historiador e marchand Pietro Maria Bardi (1900-1999). É o segundo projeto de Lina Bo no Brasil. O primeiro foi a reforma do edifício dos Diários Associados para receber o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP, em 1947, antes de ser aberto na avenida Paulista.
A história do nome Casa de Vidro é inusitada. Quem conta é o arquiteto Marcelo Ferraz, do escritório Brasil Arquitetura, que foi da equipe de Lina por 15 anos, desde 1977, com os também arquitetos Marcelo Suzuki e André Vainer. “Lina contava sobre um fulano simples que morava por ali e se referia assim à construção para dar informações: ‘É depois da Casa de Vidro; passando a casa de vidro no alto do morro…’”. E vidro é o que não falta. Na grande sala, tem-se uma visão de 360 graus do terreno íngreme. Uma parte da arquitetura projeta-se no espaço apoiada por finos pilares. Outra é assentada no solo.
O desejo de Lina e Pietro era que, após a morte deles, a casa se transformasse em um centro de pesquisa sobre arquitetura, arte e urbanismo. O sonho foi alcançado. Hoje, funciona ali o Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, com ênfase na preservação do legado da dupla. O instituto está catalogando todos os desenhos dela. “Tivemos uma verba da Caixa Econômica Federal que nos permitiu catalogar cerca de 3.500 desenhos”, conta o presidente, Giuseppe d’Anna, à frente da instituição há três anos. “Agora, com um projeto aprovado pela Petrobras, vamos enumerar e acondicionar documentos da arquiteta: correspondências, reflexões e o pensamento dela sobre urbanismo, arquitetura e arte.” Outro projeto, só que da Fapesp, prevê finalizar a catalogação dos mais de 7.500 desenhos e cerca de 150 projetos – entre realizados e não realizados.
Para André Vainer, “depois da Casa de Vidro, Lina encontrou o Brasil, que a transformou profundamente”. Já Suzuki considera que ir lá agora, sem ela, é muito triste. De um jeito ou de outro, espera-se que a casa-instituição continue sendo parte da contribuição cultural e artística de um casal que sempre teve a preocupação de dividir seu vasto conhecimento com o país que escolheu para viver.
Fonte: Casa Vogue