O vidro e toda a sua versatilidade no Eldorado Business Tower

Especificado em diversas composições, o vidro reveste a fachada, veda coberturas e assume função estrutural em pilares

30/08/2010



A Fachada de vidro estrutural protege as escadas rolantes que ligam a rua ao térreo elevado, onde se dá o acesso ao hall do edifício

A estrutura metálica da fachada de vidro estrutural é composta por tirantes de aço e suportes Spiders que fazem a ligação entre eles

Integrado ao Shopping Eldorado por uma passarela de vidro, o Eldorado Business Tower está localizado em área estratégica, que proporciona vista para a avenida Nações Unidas, o Jockey Club e as regiões dos Jardins, da Faria Lima e da Avenida Paulista. Trata-se de uma torre de 141 metros de altura e 33 pavimentos-tipo – com áreas variando entre 1.950 e 2.004 metros quadrados -, dotada de sofisticada tecnologia construtiva e engenhosas soluções de ocupação e circulação. O edifício aguarda a certificação de impacto ambiental do Leadership in Energy & Environmental Design (Leed), a ser emitida pelo Green Building Council Brasil.

O projeto de arquitetura criou um térreo elevado, definido como ponto principal de circulação. Nessa cota foram implantados uma grande praça, a passarela de integração com o centro de compras e os acessos ao hall do edifício. A conexão entre esse térreo e o nível da rua é feita por elevadores e escadas rolantes, estas protegidas por uma caixa de vidro. A volumetria da edificação foi estudada de forma que transparecesse certa leveza e se reduzisse o impacto que sua massa pudesse causar. As fachadas ganharam soluções que intercalam grelhas brancas e lâminas de vidro – volumes em balanço vedados com vidros verdes avançam na parte inferior das fachadas com grelhas e quebram visualmente a altura, segundo o arquiteto Roberto Aflalo Filho. São três balanços distintos: 1,27 metro nas faces curvas (voltadas para a marginal do rio Pinheiros e para o edifício do centro de compras, elas possuem curvaturas de 179 graus) e 2,73 e 3,25 metros nas retangulares. Em 29 mil metros quadrados de área de fachada, os elementos em balanço apresentam dimensões expressivas: 2.656 metros quadrados ao norte, 2.155 a leste, 2.656 a sul e 2.155 a oeste.

Fachada de vidro em diferentes tons viabilizando a grande transparência proposta
Vidros especiais mesclam dois tons de verde e a cor branca opaca

A construtora Gafisa queria que a fachada mesclasse as cores verde e branca, mas havia a preocupação com a poluição. Após estudos, decidiu-se pelo vidro branco serigrafado. Mas o vidro comum, quando recebe serigrafia em sua superfície branca, apresenta de um dos lados aparência meio esverdeada, proveniente da composição de sua massa, observa o arquiteto Eduardo Martins Ferreira, do escritório Aflalo & Gasperini. A opção recaiu, então, sobre um extraclear transparente, que ganhou, na face interna, pintura cerâmica serigrafada, que tem a propriedade de entrar capilarmente no vidro. Esse tratamento evita a agregação de poluentes, de modo que a manutenção da cor clara e a limpeza tornam-se mais fáceis.

Serigrafia e técnicas especiais
As fachadas do Eldorado Business Tower combinam vidros em dois tons de verde e na cor branca opaca, lembrando superfície esmaltada. Esta cor, segundo o arquiteto e consultor de vidros Paulo Duarte, foi obtida com o uso de peças extraclear de seis e oito milímetros, serigrafadas e semitemperadas. Trata-se de um produto iron free – livre de ferro em sua composição -, o que elimina os tons esverdeados do float comum. No total, há 12,5 mil metros quadrados de vidros brancos, instalados na frente dos elementos de alvenaria e de concreto. Os fechamentos que permitem a vista dos usuários do edifício para as áreas externas receberam laminado pirolítico low-e Sunergy de 12 milímetros, na cor verde. Este, segundo Duarte, tem alta transmissão luminosa (não escurece o interior da construção), baixa refletividade externa e interna e coeficientes térmicos correspondentes às necessidades de climatização. Para as frentes de vigas foi especificado vidro monolítico de oito milímetros, serigrafado com tinta mais escura. Testes de coloração mostraram que, nesses locais, um vidro comum verde teria cor mais adequada do que o transparente, empregado nos vãos-luz. “O arquiteto obteve, assim, um resultado interessante na composição: essas faixas de não-visão ficaram marcadas na fachada, mas mantendo-se a cor verde num tom compatível com a dos vidros-visão”, comenta Duarte.

O vidro também foi aplicado em revestimentos do hall e outras áreas internas. Nesse caso optou-se pelo iron free termolacado branco de seis milímetros, com película de segurança. Nesse processo, a lâmina recebe pintura especial, através de rolos que giram em sentido contrário, e depois é levada ao forno. Em todos os vidros foi aplicado produto hidrofóbico, que, além de oferecer transparência e brilho, facilita a manutenção. O produto forma uma camada multimolecular, de espessura inferior a um mícron, que lacra os microporos do vidro, impedindo que a água e a sujeira se fixem na sua superfície. A fachada manterá seu aspecto inalterado durante muitos anos, com redução do consumo de água para sua limpeza.

Montagem em série
Produzidas com sistema EFSK, da empresa alemã Schüco, as fachadas unitizadas têm modulações variáveis de 1,25 a três metros de largura por 3,80 metros de altura máxima. Usinagens simplificadas e o número reduzido de encaixes resultaram em economia de tempo na fabricação dos quadros. As ancoragens dos painéis têm ajustes de prumo, nível e alinhamento. Esse conjunto de soluções agilizou o processo, apesar de existirem cerca de 90 diferentes tipos de módulos, assim como grande número de perfis de colunas e travessas. O sistema adota painéis com elevado fator de repetição, permitindo produção, montagem e instalação em série, similar a uma linha de montagem de automóveis, segundo Michael Eidinger, gerente geral da Schüco no Brasil. Os caixilhos foram numerados um a um para facilitar o trabalho da Adalume, empresa que recebeu os projetos executivos para corte, usinagem, fabricação, montagem e instalação desses elementos. Em função da complexidade da obra, técnicos da Schüco alemã acompanharam as primeiras seqüências de montagem.

No revestimento do hall e outras áreas internas foi aplicado o vidro iron free termolacado branco, com película de segurança

Para garantir a estanqueidade, existem três linhas de vedação: a primeira absorve a pressão exterior; a segunda reduz o que resta dessa pressão; e a terceira é de segurança, caso aconteça alguma falha nas anteriores. “Essas vedações são muito importantes, porque nas fachadas incidem pressões distintas, internas e externas”, observa Eidinger. Além das gaxetas, foi utilizada horizontalmente, nas juntas entre os caixilhos, uma espuma polimérica expansiva, que faz a vedação contra a água. Importado da Alemanha, o produto é aplicado manualmente, com expansão controlada, para manter a linearidade. As fachadas foram instaladas diretamente na estrutura do edifício, através de ancoragens nas bordas das lajes.

Esse tipo de fachada, segundo Eidinger, absorve as movimentações melhor do que um sistema convencional. Os painéis são encaixados com ligações elásticas – as peças e vedações elásticas interagem na interface deles. “Se houver movimentações na laje, na direção vertical, como recalque, os encaixes entre os painéis permitirão uma movimentação dos caixilhos nessa direção. Se houver dilatação no sentido horizontal, também existem encaixes que permitem esse movimento”, completa o gerente da Schüco.

A extrusão de 230 toneladas de perfis, incluindo montantes, montantes de canto, travessas e barras de içamento/transmissão de carga, foi feita pela Hydro Alumínio. Os elementos estruturais (ancoragens e barras de transmissão) têm liga 6351 T6, enquanto os montantes receberam ligas 6063 T6 e 6005 T5. Em todos os demais elementos empregou-se a 6063 T6. Foram fabricadas especialmente para a obra cerca de 20 ferramentas de extrusão de alta complexidade, que respeitam tolerâncias segundo a norma DIN EN 12.020-2, da Alemanha, bem mais exigente que a NBR 8.116, informa o diretor comercial da Hydro, Erivam Boff. Essas tolerâncias para a extrusão são mais rígidas, permitindo, em alguns casos, variações dimensionais 50% menores que a norma brasileira.

Transparência monumental
Poucas estruturas metálicas e cerca de 90% de áreas envidraçadas compõem o fechamento da caixa de vidro ao nível da rua, do hall do térreo elevado, das marquises e da passarela que liga a torre ao Shopping Eldorado.

A caixa envidraçada que envolve a área de recepção e escadas rolantes tem pilares e vigas de vidros de 32 milímetros (três vidros de dez milímetros + quatro películas de PVB), que sustentam todo o sistema. Como o pé-direito sobre as escadas rolantes chega a dez metros, sendo de seis metros na entrada da caixa, foram feitas emendas de metal nos pilares de vidro, unindo uma coluna à outra. No hall, como o piso é elevado, uma base de concreto fixa as colunas de vidro. Para ancorar essa estrutura foi criada uma outra, metálica, que consiste em pórticos de aço, contraventados através de tirantes, a fim de garantir a rigidez exigida para o conjunto. “Trata-se de uma estrutura com ligações soldadas e aparafusadas, atendendo a aspectos técnicos e estéticos”, explica o engenheiro João Antônio Portella Neto, da Construmet, encarregada da fabricação e montagem dessas estruturas metálicas.

Todo o sistema – incluindo pilares e vigas – é travado com vidro. Essa solução exigiu cuidados especiais, informa Raimundo Calixto, da empresa RCM, responsável pelos projetos de cálculo estrutural das estruturas metálicas e vidros das áreas citadas acima. A partir desses cálculos, a Jepracorp executou as paginações e planos de corte de vidros desses e de outros espaços do edifício. Segundo o engenheiro Guilherme Maynard Cerqueira, que presta serviço para a Jepracorp, o corte dos vidros foi feito a partir de medidas de projeto, tendo em vista a impossibilidade de aguardar o final da montagem da estrutura, acrescido dos 40 dias necessários para a fabricação dos vidros temperados e laminados. Por essa razão, a Jepracorp elaborou projeto executivo com todas as medidas dos vãos ainda sem acabamento, para entrar com o sistema e fazer a instalação. O maior desafio, explica Cerqueira, foram as pequenas interferências de cotas e de nível, que exigiram adaptações na hora da instalação.

Mudança de rumo
A concepção de um prédio para ocupar o terreno vizinho ao Shopping Eldorado começou no final da década de 1990. Na época, planejava-se a construção de um edifício de escritórios conjugado a hotel cinco estrelas e centro de convenções. A proposta acabou não vingando e, quando a Gafisa se interessou pelo empreendimento, concentrou-se apenas na torre de escritórios. Os arquitetos analisaram o impacto que esta teria no conjunto e fizeram um ajuste no número de garagens, tendo em vista que haveria maior demanda de vagas. Mas rochas impediram a escavação abaixo do quinto subsolo, e assim o anexo, que seria usado como centro de convenções, passou a ser um complemento de estacionamento. A elevação do térreo em cerca de quatro metros permitiu construir um nível a mais de garagem no anexo, que tem nove pisos.

Passarela de vidro

A passarela que liga o edifício ao shopping center tem 103 m de extensão, pé-direito de 2,70 m e 3 m de largura. É composta por perfis tubulares soldados. Os pórticos principais estão intercalados a cada 5 metros, havendo pórticos secundários, para apoio dos vidros. A passarela possui guarda-corpo e pergolado na parte próxima ao hal

O pé-direito na área envidraçada das escadas rolantes que conduzem ao térreo elevado chega a dez metros

Fonte: Arcoweb