Com transparência velada por pérgulas e brises sobre amplas fachadas envidraçadas, projeto preserva a privacidade sem prejudicar a iluminação e a ventilação
Erguida na Vila Madalena, zona oeste paulistana, esta casa de traçado contemporâneo se insere discretamente no entorno, caracterizado por construções de usos, gabaritos e características diversos. De acordo com a autora do projeto, arquiteta Monica Drucker, os clientes, ainda recém-casados, solicitaram sua ajuda para a escolha e compra de um terreno onde pretendiam construir uma casa em “estilo toscano”.
Como sempre havia morado na Vila Madalena, o casal não queria viver em outro bairro. A procura não foi fácil, pois a região é densamente povoada e dispunha de poucos terrenos livres. Só depois de alguns meses de intensa pesquisa, a dupla conseguiu encontrar o lote ideal, plano e retangular, com 420m² (14 m x 30 m).
O único problema era um alto edifício de apartamentos existente ao fundo do lote, que exigiu cuidados especiais na implantação da casa, para evitar questões que viessem a afetar a salubridade e a privacidade dos moradores.
“Foram três anos e meio entre a compra do terreno e o término da obra. Nesse meio tempo, o casal que teve três filhos – uma menina e dois meninos gêmeos, se convenceu de que o projeto deveria ter uma interação objetiva e importante com o entorno – de morfologia heterogênea – e descartou a idéia inicial da ‘casa toscana’”, conta a arquiteta.
Transparências veladas
“Desde o início, nossa preocupação foi proteger a casa com transparências veladas, colocando pérgulas nos terraços, brises e panos de vidro em locais estratégicos, de maneira a preservar ao máximo a privacidade dos moradores, mas propiciando insolação e ventilação adequadas aos ambientes”, explica Monica Drucker.
Projetada em “L”, a casa com 409m² de área, tem as laterais fechadas por esquadrias de alumínio e vidros com pé-direito duplo associados a portas de correr, de maneira a permitir aeração e iluminação naturais. Os ambientes foram pensados de forma totalmente integrada e aberta para os jardins e pátios criados nas transversais.
Ambientes integrados
Grande parte do extenso programa foi organizado no térreo: garagem, dependência de empregados, cozinha, churrasqueira e forno a lenha, espaços de jantar e estar, sala de TV, lavabo, depósitos, sauna, além de jardins e pátios.
A sala da churrasqueira, com passa-prato para a cozinha, é o ambiente de refeições cotidianas da família e seu uso é mantido mesmo nos dias de festa, quando o espaço é ampliado pela abertura das portas de correr voltadas ao jardim e à sala de jantar. A área da sauna, projetada no limite do terreno, ao fundo, recebeu cobertura de vidro.
No pavimento superior, uma passarela com guarda-corpo de vidro, projetada na lateral da escada, une o mezanino da sala íntima ao corredor que leva às três suítes – do casal e dos filhos (dois quartos) -, todas integradas por uma varanda coberta por pérgula protegida por vidro e com guarda-corpos laterais também feitos de vidro.
A parede ao lado dos quartos recebeu um extenso painel de madeira cumaru com portas de acesso que ligam a varanda e o interior. Cobrindo toda a extensão da alvenaria, o painel foi executado em terças de madeira estruturadas em perfis de PVC – no mesmo formato dos de alumínio – para fixação das tábuas. Clara e ampla, a varanda, “detrás” das portas camarão, proporciona privacidade aos dormitórios em relação ao prédio vizinho e é o local usado para jogos e brincadeiras das crianças.
Entorno
Neste projeto, a noção de interior/exterior é atenuada não só pela integração de seus espaços, mas também pela continuidade de planos de alvenaria, que seguem de dentro para fora com mesma textura – seja ela de argamassa tipo cimentado, ou revestimentos em painéis de madeira (sempre cumaru), ou pedra moledo – e também pelos reflexos dos vidros, uns nos outros.
Na casa, o uso convencional do revestimento de piso residencial foi invertido pela arquiteta: enquanto o concreto usinado com resina foi aplicado nos grandes ambientes internos de estar e jantar, a área externa, junto ao jardim, recebeu um deck de madeira.
Na fachada, a horizontalidade é realçada por janelas e portões de correr de madeira cumaru. No limite com o passeio, ao invés de muros fechados de alvenaria, comuns nas grandes cidades, a arquiteta optou pelo uso de portões que ocupam toda a largura do terreno, executados em ripas de madeira como brises, de modo a preservar a vista para a rua.
No pátio da garagem – que tem como cobertura a laje que suporta a suíte, em balanço -, o mesmo tipo de madeira foi usado no portão de acesso à lateral da casa e na porta dos medidores de água e luz. Na parede da garagem, o destaque é o revestimento de pedra moledo, que penetra pelo hall social e chega à sala de jantar.
Leonardo Finotti/UOL