Murano, história e dicas de passeio por Maurício Ouyama

Blogueiro compartilha suas impressões e histórias da ilha em Veneza reconhecida mundialmente pela tradição na arte em vidro.

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Ilha de Murano por Maurício Ouyama

 

Criado por Maurício Ouyama, o blog Devir-Nômade reúne, desde 2010, experiências pessoais sobre viagens, história e filosofia. Em sua estada em Veneza (Itália), o redator resolveu visitar as ilhas menores ao redor da laguna e, entre elas, a icônica ilha de Murano, reconhecida mundialmente pela tradição milenar na arte em vidro.

Além de registrar sua passagem com uma sessão de fotos, Ouyama escreveu um pouco sobre a história e dicas de passeio desta ilha que se tornou sinônimo do sofisticado vidro Murano, confira:

“É preciso passar mais de um dia na cidade, pois uma visita as ilhas próximas de Veneza vão te tomar umas 4 ou 5 horas (levando em consideração o tempo que você leva até lá e o tempo que você visita cada uma, parece muito tempo, mas não é). Você pode pular de ilha em ilha de vaporetto, ou comprar um ticket da companhia Alilaguna.

Para encontrar o guichê da companhia Alilaguna basta caminhar da Piazza di San Marco em direção a Basílica de Santa Maria della Salute, numa calçada cheia de árvores e onde ficam os pintores de aquarelas.

O bilhete com direito a Murano, Burano e Torcello custa 20 euros, mas tem guia em 4 idiomas (italiano, francês, inglês e espanhol), e direito a algumas regalias (por exemplo, uma visita a uma fábrica de vidros em Murano).

Murano é formado por um arquipélago de 7 ilhas ao longo do Canal Marani, das quais duas foram feitas de forma artificial – Sacca Serenella e Sacca Mattia – que são ligadas entre si por uma ponte. Murano hoje em dia é totalmente urbanizada e acho que fora de Veneza é a ilha mais habitada daquela parte do Mar Adriático. Essa ilha já havia sido habitada desde a época dos romanos e prosperou com a produção de sal.

Mas foi a atividade dos vidros que deu renome internacional à este local. Os vidros eram produzidos inicialmente em Veneza. Vestígios arqueológicos na Ilha de Torcello já demonstravam que a atividade já era corrente desde o século VIII. Mas passou-se muito tempo até que a atividade tornasse uma área de excelência reconhecida internacionalmente.

A técnica de fabricar vidros já era conhecida pelos egípcios, gregos e romanos. Mas foi na Itália que ela ganhou status e requinte de “arte”, graças ao empenho das famílias e a elaboração de técnicas cada vez mais apuradas.

O incentivo da produção de vidros veio com a Sereníssima República. No auge da República, com o florescimento do comércio na região do Rialto, Veneza tornou-se um grande centro urbano. As primeiras corporações de ofício de vidreiros surgiram na época da República. O ofício era controlado pelos dodges e as técnicas eram passadas de pai para filhos, mantidas em segredo, a coisa toda era levada muito à serio.

O florescimento das fábricas de vidro foi rápido. Em 1271, uma capitular já regulamentava as normas do ofício de vidreiro e da fabricação de vidro em Veneza. Por exemplo, a importação de vidro era proibida, assim como a contração de artesãos de outras regiões.

As Guildas de fabricantes de vidro estavam sob proteção da República, o processo de fabricação de vidro era dominado apenas por umas poucas famílias e o seu procedimento era altamente secreto. As fórmulas eram escritas em “partiles” ou pequenas receitas transcritas em livros, que eram guardadas à sete chaves.

O esforço dos artesãos do vidro foi recompensado pela República. Em Veneza, os artesãos e mestres-vidreiros eram bastante respeitados e tinham um status social elevado. A eles eram reservados alguns privilégios como a permissão para casar-se com alguém de uma classe social mais distinta, da nobreza.

Mas com o desenvolvimento da República e o crescimento de Veneza (no seu auge, chegou a ter mais de 150 mil habitantes, sendo uma das mais populosas da Europa), tornou-se necessário um controle maior da produção do vidro.

Então, em 1291 houve uma mudança drástica. Uma capitular da República determinou que todos os vidreiros e pessoas ligadas a esta atividade deveriam ser transferidos para a ilha de Murano.

Inicialmente, a justificativa dessa medida é que as casas em Veneza eram construídas em sua maioria de madeira, e temia-se que as fornalhas das fábricas de vidro provocassem uma tragédia, já que as casas são coladinhas umas nas outras. Porém, sabe-se que com essa medida, os dodges também visavam controlar melhor a produção do vidro, monopolizando a atividade.

Em 1295, outra capitular vai estabelecer que as famílias de vidreiros que foram enviados para Murano estavam proibidos de sair do local, sob o risco de punição física e até pena de morte. Desde então, Murano concentrou toda a atividade de produção de vidro.

Com o tempo, o ofício foi se aperfeiçoando, e os vidreiros conseguiam resultados incríveis. Com a fuga de artesãos após a queda de Constantinopla no século XV, os vidros de Murano também receberam influência do Oriente.

No século XV, o mestre Angelo Barovier conseguiu uma composição que deu origem ao vidro cristallo, um vidro tão límpido e transparente que parecia um cristal.

Tempos depois, os vidreiros de Murano conseguiram resultados variados: os aventurini (vidro com rajadas coloridas), millefiori (vidros com várias cores misturadas), cornellianos (avermelhados), azul turquesa e os lattimo (que imitam as porcelanas chinesas)

Mas as técnicas de fabricação de vidro permanecem até hoje, como eram antigamente. A elegância e a leveza dos vidros de Murano ficaram conhecidos além das fronteiras. A variedade de objetos era enorme: pratos, talheres, taças, copos, colares, frascos de perfume, lustres, etc.

Pessoas vinham de longe para adquirir os famosos vidros Murano, que a esta altura já ganhava status de qualidade: Murano tornou-se o próprio sinônimo do vidro produzido ali. Assim, as famílias de artesãos buscavam combinações inusitadas, produzindo peças com uma beleza e leveza inconfundíveis.

 

Passeio pela Ilha de Murano

A Ilha de Murano em si não é muito grande, você pode visitá-la em algumas horas. Mas apesar de parecer tudo igual à Veneza, dá pra sentir que o povo de Murano já tem um modo de vida mais pacato, a cidadezinha, apesar de bem urbanizada, ainda tem um ar tranquilo.

Murano é uma das ilhas mais visitadas pelos turistas, mas ainda assim, você pode percorrer as calçadas tranquilamente, admirando os barcos, as lojinhas de vidro etc.

O grande centro de Murano é a região perto da Chiesa Santa Maria e San Donato, muito bonita por sinal.

Mas a parte mais empolgante da visita a Ilha de Murano é você poder conhecer bem de perto a produção de vidro.

Algumas das fábricas existentes em Murano ainda pertencem às famílias tradicionais de vidreiros como Venini, Barovier, Salviati, Toso, Cenedese, Barbini.

Murano ainda está cheia de fábricas artesanais. Não sei se elas organizam visitações. Mas quando você compra uma excursão pela Alilaguna, isso já inclui uma visita à uma das fábricas de vidro da cidade.

Lá, eles te levam até uma fornalha, que também tem uma espécie de mini-arquibancada, como se fosse um anfiteatro. Dá pra você sentar lá, e eles vão demonstrar como se faz o vidro, é uma experiência maravilhosa.

Quando eu fui lá, os caras estavam fazendo umas garrafinhas e uma espécie de cavalinho de vidro, que depois eu vi bastante nas lojas espalhadas por Murano.

E, é claro, depois da exibição de gala dos artesãos fazendo o vidro na sua frente, você é conduzido por uma portinha, que te leva a uma sala cheia de vidros.

E depois de sair da fábrica, deu ainda para andar pela cidade, e conhecer as lojas. Uma peça mais linda do que a outra. Claro que o preço é meio salgado.

As peças mais incríveis de Murano estão reunidas no Museo del Vetro. Se você tiver um tempinho maior, vale a pena visitar, mas eu estava de excursão e não deu tempo.

Então, se você for para Veneza, não deixe de guardar um tempinho para visitar a Ilha de Murano. Os vidros em si você vê em outros lugares da Itália (até em Roma), mas o legal mesmo é ir para Murano e ver a fabricação de vidro na sua frente, ao vivo, isso valeu muito a pena.”

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