A evoluçao das esquadrias

Novas normas para esquadrias permitirão fachadas capazes de atender requisitos estéticos e de eficiência

Complexo WTorre Nações Unidas - O prédio foi especificado com fachada pele de vidro

Um bom exemplo de avanço no setor está na disponibilidade de recursos que hoje permitem a substituição de uma folha de vidro em uma fachada do tipo structural glazing sem a necessidade de desmontar todo o caixilho. “De uns anos para cá é possível montar e desmontar a esquadria frontalmente. Dependendo do sistema, a troca pode ser feita pelo lado interno do prédio, o que dispensa o balancim e dá mais segurança e rapidez à operação”, destaca Joel Carlos de Souza, consultor de esquadrias do Instituto Aço Brasil (IABr).

Segundo a engenheira Fabíola Rago, consultora e coordenadora do grupo de normas da Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal), essa evolução está ligada ao desenvolvimento da indústria de perfis e componentes. “Os conceitos são os mesmos, mas os projetos e as linhas de produtos avançaram bastante nos últimos anos”, ela afirma.

Desde a década de 1970, as fachadas de vidro são vistas como símbolo de status para prédios de escritórios, repetindo o padrão estético predominante nas grandes cidades norte-americanas. Nas primeiras construções desse tipo no Brasil, os vidros utilizados eram muito diferentes dos atuais e não apresentavam propriedades térmicas adequadas a esse tipo de uso, o que transformou muitos prédios em caixas acumuladoras de calor. “Existem edifícios com fachadas de vidro construídos há 30 ou 40 anos em São Paulo em que o ar-condicionado começa a funcionar na manhã de domingo, para que as pessoas tenham condições de entrar para trabalhar na segunda. O gasto com energia elétrica é absurdo e a única solução possível é a troca por vidros com propriedades refletivas”, comenta Souza.

Apesar da evolução do material nas últimas décadas, muitos edifícios bem mais recentes ainda têm problemas semelhantes, atribuíveis a uma economia que prejudica a qualidade ou a equívocos decorrentes de um projeto feito por profissional não especializado. “O arquiteto desenha a fachada e o projetista a desenvolve. Para que um prédio com fachada de vidro tenha conforto termoacústico, o projeto tem que ser implementado por um especialista no assunto. É ele quem vai viabilizar uma fachada eficiente com menores custos. Além disso, o projeto deve nascer integrado com a arquitetura e a estrutura, para que seja possível adotar as melhores soluções sem comprometer o desempenho”, alerta Fabíola. O designer industrial Luís Cláudio Viesti, do departamento técnico da Afeal, concorda. “Em boa parte dos prédios, as fachadas de vidro não foram projetadas por um profissional especializado. Muitos ainda acham que o projeto de esquadrias é só um acessório. O projetista especializado conhece não só os variados sistemas e os diferentes desempenhos de cada vidro para garantir conforto termoacústico, mas também sabe qual o tipo de montante e de ancoragem ideal em função dos cálculos do vento que incide na edificação”, ele completa.

Diversidade de sistemas

Não existe ainda uma nomenclatura oficial para definir os variados tipos de fachadas envidraçadas, o que causa certa confusão no mercado, explica Viesti. “Às vezes, só mostrando fotos é que conseguimos entender de que tipo de fachada a pessoa está falando”, afirma. Segundo ele, a fachada-cortina é aquela que tem estruturas (perfis) verticais aparentes, com presença forte no lado externo, formando um conjunto com os vidros. Na pele de vidro, perfis, montantes e travessas estão ocultos por trás do vidro, fazendo o trabalho estrutural. A pele de vidro ainda se subdivide em dois outros tipos de fachada, conforme a maneira de fixação do vidro: encaixilhada, em que as folhas estão presas em caixilhos; e structural glazing, em que o vidro é colado ao quadro por meio de silicone estrutural ou de fitas adesivas de dupla face próprias para essa finalidade.

Há ainda os sistemas unitizados, que são os conjuntos montados de forma industrial e depois içados até o ponto de instalação. E, por fim, as fachadas estruturadas em vidro, em que peças metálicas, conhecidas no mercado como aranhas ou spider glass, são fixadas simultaneamente no montante estrutural e nas folhas de vidro. “Esse sistema foi originalmente criado para servir como fachada de ventilação, sem a função de vedação. Aqui no Brasil ele aparece não como fachada dupla, mas como fachada comum. Nesse caso, os vidros são fixados com essas peças metálicas e a vedação entre eles é feita com silicone”, detalha Viesti.

Não importa se o projeto é de uma fachada envidraçada, janelas ou mesmo portas de terraço. Os critérios de análise são sempre os mesmos no que se refere a permeabilidade ao ar, estanqueidade à água e cargas uniformemente distribuídas (ventos). Mas não é só a esquadria que merece a atenção dos profissionais envolvidos. “A melhor janela do mundo pode ter problemas se a instalação for errada. O vão tem que ter prumo, esquadro e nível. O encaixe precisa ser perfeito, sem sobrar nem faltar. Se houver algum problema no ponto em que a alvenaria e a esquadria se encontram, a tendência é surgirem fissuras e consequentes infiltrações”, completa Fabíola.

Peças metálicas conhecidas por aranhas são fixadas ao montante e sustentam os vidros da fachada do Centro Britânico Brasileiro, em São Paulo. A arquitetura é de Botti Rubin e o projeto de esquadrias é da AEC

Novas normas

Em maio desse ano entrou em vigor a NBR 15.575, que tem seis partes e define o nível mínimo de desempenho do ambiente construído. A quarta parte da norma abrange os sistemas de vedação vertical interna e externa, que estão diretamente relacionados ao conforto termoacústico nos ambientes internos.

Embora a norma tenha sido elaborada especificamente para o segmento de edifícios habitacionais de até cinco pavimentos, ela estabelece referências mínimas que podem ser cobradas pelos contratantes para qualquer tipo de construção. Uma das exigências é o escurecimento dos quartos pelo lado externo por meio de persianas de enrolar ou por janelas de três planos (duas folhas de vidro e uma veneziana). “O escurecimento externo só é comum em prédios residenciais de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Nos outros estados, mesmo os edifícios de alto padrão são entregues sem essa proteção, apesar dos altos níveis de insolação”, comenta Souza.

Já o novo texto da NBR 10821 separa as esquadrias em cinco categorias e atribui especificações técnicas mínimas para cada uma delas. De acordo com Fabíola, a nova normatização deve implicar mudanças significativas para o mercado e vai permitir que os fabricantes ofereçam produtos com diversos níveis de desempenho, para atender a diferentes mercados. “Em Requisitos e Classificação, as esquadrias serão classificadas em acordo com a quantidade de pavimentos da edificação em que serão instaladas, com a região do país e com o nível de desempenho desejado, que poderá ser mínimo (M), intermediário (I) ou superior (S). Já a terceira parte trará mudanças nos métodos de ensaio para a obtenção de resultados mais coerentes quanto ao desempenho das esquadrias em termos de permeabilidade ao ar, estanqueidade à água, resistência às cargas uniformemente distribuídas e às operações de manuseio”, explica a engenheira.

Largamente empregado em fachadas, o structural glazing ganhou sua primeira norma técnica brasileira somente em 2009, quando foi publicada a NBR 15.737, que aborda especificamente a fixação do vidro com silicone. “Uma outra norma, que foca exclusivamente a fixação do vidro com as fitas de dupla face, já está em processo de consulta nacional e logo deve ser publicada”, antecipa Souza.

Além dessas, existe outra NBR no estágio inicial de elaboração e que será a primeira no país a abranger componentes para esquadrias, tais como articulações, roldanas, fechos, motorização e recolhedores de persianas, peças de náilon ou palhetas, entre outros. Essa norma tratará dos requisitos mínimos desses componentes, tais como ciclos de uso, resistência à corrosão e a esforços mecânicos, além de abordar regras de armazenamento, identificação, instalação e manutenção. “Ainda estamos preparando os textosbase dessa norma, que só deve entrar em vigor em meados de 2011”, detalha Fabíola. Há ainda a revisão da norma dos componentes corta-fogo, que poderá incluir o vidro temperado, versão que pode ser laminada para atender a outras exigências de segurança da construção. “A ideia é ter ensaios específicos para que esse vidro possa ser usado em portas corta-fogo ou ainda como isolamento para evitar a propagação das chamas de um andar para outro”, antecipa Souza.

Fachada dupla ventilada no edifício Cidade Nova, na região central do Rio de Janeiro. O projeto de arquitetura é de Ruy Rezende e o da fachada é da QMD Consultoria
O edifício residencial em Florianópolis apresenta fachada structural glazing com vidro insulado e película PVB acústica. O projeto é de Evandro Gaspar

Fonte: Arcoweb