Impulsionada pelos massivos investimentos em pesquisas e tecnologia, indústria do vidro deu um salto em números e qualidade
Elemento de integração dos espaços, o vidro, com suas especificidades, perdeu definitivamente o papel de material de construção coadjuvante para auxiliar em aspectos mais tecnológicos, além de suas já conhecidas funções de luminosidade, ventilação e conforto termoacústico.
A tendência da arquitetura em criar espaços ecologicamente corretos – com design inteligente, tecnologia verde e material que diminua o impacto ambiental – tem valorizado o papel do vidro nas construções. O material, praticamente obrigatório em todos os tipos de obras, tornou-se um item comum, mas quando bem utilizado, pode promover o equilíbrio perfeito entre estética e qualidade de vida.
De 4000 a.C. até hoje, pouca coisa mudou na composição do vidro: a mistura básica ainda funde sílica (areia) e outros minerais. Mas no resultado final há muita diferença. Impulsionada por novos processos de fabricação e beneficiamento, essa indústria deu um salto em números e qualidade no país. E, quanto maior a demanda, maior o investimento em tecnologia – graças a ela, produtos como chapas autolimpantes e de controle solar já são uma realidade incorporada ao repertório nacional.
Dentre as novidades verdes, despontam os vidros seletivos, capazes de refletir mais calor que luminosidade. Nas versões atuais, diminuiu-se o aspecto espelhado. Obter o resultado ideal, porém, exige conhecer cada produto: “Os vidros low-e [de baixa emissividade, comuns na Europa e recém-chegados aqui] funcionam bem em países frios, pois permitem a entrada de radiação solar e não a deixam sair, mantendo os interiores aquecidos.
Nos trópicos, vale apostar nos modelos com controle solar associado”, diz a arquiteta gaúcha Lisandra Fachinello Krebs, consultora da Krebs Sustentabilidade e profissional acreditada pelo LEED (selo americano de green building). Nestes, a mesma chapa combina camadas de substâncias com as duas propriedades, tornando-a apta a diminuir a incidência de calor de um lado e evitar a perda de refrigeração do outro.
Anteriormente tímido em sua participação na construção civil, o vidro agora compõe degraus, guarda-corpos, vigas e outras estruturas até então entregues a materiais como concreto e madeira. “Uma vez identificados os problemas que aumentavam a fragilidade do vidro, buscou-se neutralizá-los”, diz Paulo Duarte, referindo-se aos métodos tradicionais de corte e lapidação que intensificavam a presença de microfissuras intrínsecas ao material e diminuíam seu desempenho.
Além do aperfeiçoamento dessas tecnologias já conhecidas, novas técnicas surgiram – como o corte com laser e jatos d’água, alternativas ao bom e velho diamante. Outro fator que colaborou para a maior presença do vidro na arquitetura foi a melhora no beneficiamento. Na laminação, sobressai a busca por películas de maior segurança para o recheio entre as folhas.
Estética
Não faz muito tempo que as opções em vidros impressos se resumiam a padrões canelados e martelados, aqueles comumente vistos nas janelas de banheiros e lavanderias de antigamente. Daí surgiram pontilhados, estrias, quadriculados e outros acabamentos de visual moderno, com outra vantagem: o incremento na fabricação garante uniformidade à face lisa das chapas, característica fundamental para que a maioria delas aceite beneficiamentos como laminação, têmpera e serigrafia.
A laminação, aliás, é outro segmento repleto de possibilidades: além da cartela de cores infinita, o processo avançou a tal ponto que tornou possível rechear os sanduíches de vidro com reproduções de fotos, cortes de tecido e lâminas melamínicas, entre outras opções – bem como preparar folhas de até 6 m de comprimento (na têmpera, o limite atual é de 5,20 m), para a felicidade do arquiteto paulista Arthur Casas. “Quanto menos emendas, melhor”, afirma ele, que sonha com placas ainda maiores, já corriqueiras em outros países.
Contar com a orientação de um profissional especializado é sempre a melhor pedida – fatores como a exposição a ventos e umidade influenciam na determinação da espessura e do tipo mais adequado de vidro para cada situação. “Pergunte ao vidraceiro se ele tem conhecimento da norma NBR 7 199”, sugere Silvio Ricardo Bueno de Carvalho, coordenador de normalização técnica da Abravidro. Essa regulamentação da ABNT especifica que guarda-corpos e coberturas devem ser feitos apenas com vidros laminados ou aramados, cuja capacidade de manter os fragmentos no lugar em caso de quebra diminui o risco de acidentes. Preocupada em divulgar essa e outras regras de segurança, a Abravidro tem promovido cursos para bombeiros de diversos estados, já que são eles os responsáveis por liberar o habite-se das construções.
De acordo com José Antônio Passi, diretor da Divinal Vidros, a primeira coisa que se deve levar em conta ao especificar grandes áreas envidraçadas é a segurança que o produto oferece para o tipo de projeto almejado. “Em primeiro lugar analisa-se aspectos de segurança como pressão do vento no local, insolação, tipos de fixações, para daí chegar à espessura e ao produto mais adequado para o projeto”, afirma Passi, que já vislumbrara o futuro da arquitetura para vidros de grandes dimensões e faz investimentos constantes na tecnologia para o beneficiamento de diferentes tipos de vidro – temperados, laminados, de controle solar e termoacústico (vidros insulados), contando uma das maiores medidas de vidro de segurança do mercado.
Fonte: casa.abril