Anúncio da Coca-Cola de ampliar venda de garrafas retornáveis, retoma questão sobre qual embalagem agride menos o ambiente
Para a Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro), é óbvio:
– O vidro é totalmente reutilizável. Você joga os cacos em um forno a 1.300°C e eles se transformam em outro vidro. O aproveitamento é de 100%. Estamos prontos para qualquer tipo de discussão sobre as vantagens que o vidro pode oferecer – diz Lucien Belmonte, superintendente da Abividro.
O discurso é assertivo, mas nossa certeza balança ao ouvir os argumentos de Auri Marcon, presidente Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet):
– Se um caminhão sair carregado com água em embalagem retornável (vidro), 48% do espaço será ocupado com a embalagem e 52% com o líquido. Se for com PET, apenas 2% da carga será com embalagem e 98% com o produto. Sem falar na reciclagem, que gera um faturamento anual de cerca de R$ 1,1 bilhão.
Mas a grande verdade é que ambos possuem vantagens, só que o lado bom do PET está relacionado indiretamente ao meio ambiente, devido sua comodidade e facilidade de transporte. O PET, por ser mais leve e demandar menos espaço, acaba por otimizar os custos logísticos, além da influência que o peso exerce no consumo de combustível.
Como resposta, fabricantes de embalagens de vidro passaram a investir no desenvolvimento de garrafas mais leves, economizando tanto matéria-prima quanto o próprio combustível de transporte, exemplo das linhas Ecova, da Verallia, e a Leve+Verde, da O-I.
Do ponto de vista ambiental, o vidro é menos agressivo, ainda que seu processo industrial tenha que evoluir, adotando práticas menos poluentes. Sua matéria-prima básica, com função vitrificante, é a sílica (areia), retirada da natureza em grandes quantidades.
Mas a comunidade científica parece ter adotado de vez o vidro como matéria-prima ideal para embalagens, se manifestando através de pesquisas e estudos que salientam não apenas vantagens ao meio ambiente, mas principalmente à saúde dos consumidores.
Vantagens do vidro
– Não permite que o produto fique impregnado com o cheiro da embalagem e não interfere no sabor
– Retornável e 100% reciclável, ou seja, de um quilo de cacos de vidro reciclado, faz-se um quilo de vidro novo
– Inerte quimicamente – Mesmo o vidro sendo o material que mais demora a se decompor, sua característica inerte (não reativo) não libera resíduos contaminantes no solo ou nos lençóis freáticos
– Possui uma pegada de carbono menor em todo o seu processo de fabricação, se comparado ao PET e aluminio
Desvantagens
– É quebrável e pesado. Uma garrafa de um litro pode pesar cerca de 950 gramas.
– Grande extração de sílica (areia) da natureza
– Emissão de CO2 e de componentes químicos (óxidos e sais).
Como ocorre a reciclagem
É um processo simples, que se resume em duas etapas:
1) Resgate – Se inicia no descarte, com a remessa para a reciclagem.
2) Reaproveitamento – É feito a partir de um forno aquecido a uma temperatura de 1.300ºC. Os cacos de vidro, sem distinção, podem ser transformados em novas embalagens.
Vantagens do PET
– Confeccionado a partir de petróleo, é o melhor e mais resistente plástico para a fabricação de garrafas, frascos e embalagens para bebidas, além de óleos comestíveis, medicamentos, cosméticos, produtos de higiene e limpeza.
– É fácil de reciclar e transformar em fibras de poliéster. É leve, o que facilita o transporte: uma embalagem de dois litros pesa cerca de 50 gramas.
– Receita gerada com sua reciclagem. Atividade gera um faturamento anual de cerca de R$ 1,1 bilhão
Desvantagens
– É descartado de forma inconsciente pela maior parte da população, poluindo rios e córregos. Além disso, a maior parte da produção ainda tem origem em fonte não renovável (o petróleo).
– Vida útil
– É um produto descartável, que será reciclado após o uso. O plástico, contudo, perde propriedades ao ser reaproveitado.
– Presença de Bisfenol A. Composto químico comumente utilizado na fabricação de embalagens plásticas para alimentos e bebidas, o Bisfenol A, está associado a um maior risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e anormalidades hepáticas.
Como ocorre a reciclagem
Se dá em três etapas:
1) Recuperação – Tem início no momento do descarte e termina com a confecção do fardo, que se torna sucata comercializável.
2) Revalorização – É a compra da sucata e a produção de matéria-prima reciclada.
3) Transformação – É a utilização da matéria-prima oriunda dos PETs para a produção de fibras, novas garrafas, móveis e coletores de água, entre uma série de possibilidades.
Bisfenol-A
Composto químico comumente utilizado na fabricação de embalagens plásticas e enlatados para alimentos e bebidas, o Bisfenol A, está associado a um maior risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e anormalidades hepáticas.
Recentemente, discussões sobre os efeitos nocivos do Bisfenol A (BPA) entraram na pauta do Ministério Público Federal, que abriu inquérito para investigar a substância. Encontrada em utensílios plásticos, como mamadeiras e embalagens, o BPA pode causar problemas cardíacos, reprodutivos (como diminuição de testosterona e puberdade precoce), predisposição para câncer, diabetes, hiperatividade e obesidade.
Atualmente, proibido pela União Européia e em países como Canadá, Dinamarca, Costa Rica e em alguns estados norte-americanos, o BPA é utilizado no Brasil, desde que obedeça as exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que limita o uso em 0,6 mg para cada quilo de plástico.
Sergio Vaisman, médico especialista em Cardiologia e Nutrologia, que se dedica à prática de Medicina Preventiva, acrescenta que por tratar-se de um Disruptor Endócrino (substância que modifica produções hormonais de certas glândulas), o Bisfenol é estudado juntamente a outras substâncias sintéticas presentes em objetos de consumo e meio ambiente, portanto, a exposição à toxina deve ser evitada.
O deputado Dionísio Lins (PP), apresentou na Assembléia Legislativa, projeto de lei que proíbe a venda de mamadeiras e demais produtos de plástico que contenham a substância bisfenol-A.
Segundo o parlamentar, estudos comprovam que o acúmulo deste aditivo pode causar câncer, além de estar associado à puberdade precoce em meninas, uma vez que imita o hormônio Estrogênio; isso sem contar que, quando do aquecimento de líquidos dentro da mamadeira, como o leite, por exemplo, o alimento fica contaminado pelas substâncias presente no plástico das mamadeiras, entre eles o bisfenol.
Ele explicou ainda que, a atenção deve ser voltada principalmente para o número 07, que indica a presença do Bisfenol, e pode ser identificado em um triângulo localizado na parte debaixo do produto plástico. Pratos e copos podem conter o produto, por isso, é aconselhável aquecer os alimentos em recipientes de vidro ou cerâmica, jamais ferver nem lavar a mamadeira com água quente, bastando detergente e água.
Estes e outros esclarecimentos devem ser colocados a toda a população, principalmente às mães. O Bisfenol A é utilizado na composição do plástico para oferecer maleabilidade, ou seja, sem isso, o plástico fica duro e quebradiço – esclareceu.
O projeto determina ainda que o fabricante esclareça ao consumidor, quais são os riscos deste produto para a saúde e os cuidados no manuseio em caso de contato com a água fervente e alimentos. Ele garante ainda que, o descumprimento da lei implicará ao infrator uma multa no valor de 1.000 Ufirs, sendo que, em caso de reincidência, esse valor será 50 vezes o valor previsto.
Análise da pegada de carbono das embalagens
Recentemente, a Owens-Illinois (O-I) anunciou os resultados da Avaliação do Ciclo de Vida (LCA – sigla em inglês para Life Cycle Assessment) das embalagens de vidro. Global, esse estudo visa fornecer aos clientes clareza sobre a pegada de carbono das embalagens. Ao mesmo tempo, o LCA permite agora comparar o vidro com outras opções, como o alumínio e o PET.
O LCA é uma análise abrangente, que mede as emissões de carbono em cada um dos estágios da fabricação das embalagens de vidro. É o primeiro estudo do setor realizado de berço a berço (“cradle to cradle”), ou seja, desde a extração da matéria-prima até a reciclagem do produto. Os outros apenas contabilizam uma parte da cadeia de produção, e não o ciclo completo. Sem uma metodologia “cradle to cradle” é quase impossível para clientes, consumidores e empresas comparar o impacto ambiental entre os diferentes tipos de embalagens.
A O-I usou informações públicas disponíveis sobre o PET e o alumínio. A análise dos dados e a validação foram realizadas pela AMR Research, conceituada empresa americana especializada em pesquisas sobre cadeias de fornecimento e sustentabilidade. Além disso, a abordagem complementa os estudos que estão sendo apresentados pelas associações de fabricantes de vidro da Europa (FEVE) e da América do Norte (GPI).
Jay Scripter, vice-presidente de sustentabilidade da O-I, acrescentou: “Nosso LCA mostra claramente que o vidro tem uma pegada de carbono muito mais favorável ao meio ambiente. Quando você olha para o ciclo completo, percebe que há diferenças importantes, além de ser a única embalagem 100% reciclável. Os fabricantes de alimentos e bebidas, preocupados com a sustentabilidade, devem passar a preferir o vidro depois de conhecer essa informação”.
O reposicionamento das embalagens de vidro
A modernização das embalagens gerou um grande preconceito em relação às embalagens de vidro. O plástico foi o escolhido para substituir o antiquado vidro, o que parecia muito prático e econômico seria o primeiro passo para uma catástrofe ambiental.
As novas embalagens ganharam espaço na vida dos consumidores e ao mesmo tempo no meio ambiente, na forma de lixo não degradável. É só olharmos ao nosso redor e lá estão elas, as embalagens plásticas dando um ar horripilante à natureza. Elas representam hoje a principal fonte poluidora, e nos faz lembrar com saudade do tempo que não existiam e, aliás, vivíamos muito bem sem elas.
Reciclar uma embalagem de vidro é sinônimo de economia, uma vez que pode ser reciclada infinitamente, sem perda da qualidade ou pureza do produto. Se fosse para produzir uma garrafa utilizando a extração de matérias-primas virgens (minérios), somado ao custo de energia no processo de obtenção, teríamos um gasto muito maior do que com o reaproveitando de cacos de vidro. No processo de reciclagem se usa menos energia e a matéria original é reaproveitada.
Uma pergunta pode surgir: se o vidro é o material que mais demora a se decompor na natureza, como ele pode não prejudicá-la? Pela característica inerte (não reativo) do vidro, ele não libera resíduos contaminantes no solo ou nos lençóis freáticos, pois não reage com os componentes presentes. Mas lembre-se: a melhor alternativa é a reciclagem, para não aumentar o volume nos aterros sanitários.
As embalagens de vidro estão retomando seu lugar no mercado, através de técnicas de aperfeiçoamento o material ganhou mais leveza sem perder a resistência. É necessário abrir mão do conforto proporcionado pela praticidade das embalagens plásticas e aderirmos ao pesado vidro em prol da natureza.