O vitrinista Edgard Octávio define seu trabalho como uma cenografia ligada à moda, artes e decoração
12/08/2010
Aos 12 anos, Edgard Octávio, decorou o apartamento dos pais, no Rio de Janeiro, sua cidade natal. Foi a sensação do prédio e atraiu a curiosidade dos moradores. Cinco anos depois, tornou-se representante comercial de uma loja de roupas cariocas e, sempre que podia, acompanhava um amigo vitrinista nas visitas às lojas mais elegantes da época.
Foi aí que passou a conhecer pessoas importantes nesse mercado. Até o dia em que aquele amigo simplesmente não apareceu para fazer a decoração de um evento de moda. Como já era conhecido das organizadoras, Edgard acabou sendo chamado para o trabalho. Foi o pontapé inicial de sua carreira. “Gostaram tanto que não quiseram que ele trabalhasse mais para elas. Foi um pouco constrangedor, mas somos amigos até hoje”, diverte-se.
Hoje, aos 55 anos, assina vitrines de lojas de luxo, como Chanel e Daslu, em São Paulo, e a cenografia de festas badaladas, como as da estilista Lenny Niemeyer, no Rio de Janeiro. Além disso, é o único brasileiro que faz parte do seleto grupo de 30 profissionais autorizados a fazer as vitrines da marca francesa Hermès no País.
Sempre estudou pintura e desenho. “Minha formação é da vida, é cultural.” Edgard fez o primeiro ano do curso de Belas Artes, mas não chegou a se formar. “Minha sensibilidade e vivência me deram todo o embasamento que tenho hoje.”
Conta que, na época em que começou a trabalhar, buscava um diferencial ao que já existia. “Minhas vitrines passaram a ter temas, iluminação teatral, manequins, elementos que eram considerados cafonas.” No final dos anos 1970, foi conquistando clientes fora do Rio.
Para ele, colocar uma roupa em um manequim também é uma arte, que requer uma edição de moda para vender o conceito e o estilo da marca. “Sou contra o vitrinista caseiro, o vendedor que arruma vitrine. Isso tem que ser trabalho para profissional.” E diz que descarta a banalidade na hora de compor suas cenografias. “Pretensão eu acho brega. Você, com soluções simples, pode fazer coisas bacanas.”
É bastante requisitado para realizar a cenografia de festas de moda. É dele, por exemplo, a exclusividade da decoração do Rio Fashion Business. Além disso, faz decoração de eventos empresariais e casamentos, como o da filha da empresária Eliana Tranchesi e o da apresentadora Astrid Fontenelle. “Você traduz, sempre, o perfil do evento e, principalmente, do seu cliente.”
Todos os anos, viaja para Austrália e Indonésia a fim de assinar a decoração da festa de representação das sandálias Havaianas no exterior. “Sempre uso temas brasileiros.” Lembra que, em uma dessas festas, montou um Cristo Redentor inflável e aproveitou cenários cariocas para compor o resto da ambientação.
Edgard conta com uma equipe enxuta, de apenas três profissionais. Ele também trabalha com meninos de comunidades carentes na montagem dos eventos que realiza. “É uma função educativa. Elas precisam, têm vontade de aprender e, às vezes, me surpreendem.”
Por: Raphael Scire
Fonte: Estadão