Na reformulação do Museu do Chocolate, duas torres e duas passarelas em vidro vermelho foram projetadas para circulação de visitantes na Fábrica da Nestlé
Duas passarelas e duas torres metálicas, todas com fechamento de vidro e volumetria triangular, assumem a função de entrada, saída e circulação dos visitantes, no caminho que percorrem para o também remodelado Museu do Chocolate.
O desenho vermelho percorre o edifício antigo e emoldura um novo caminho na fábrica da Nestlé, a 109 km de São Paulo. Quem passa pela rodovia Presidente Dutra, que liga a capital paulista ao Rio de Janeiro, surpreende-se: as torres e passarelas metálicas com fechamento de vidro laminado e película vermelha dão uma nova referência ao local.
Projetadas pelo escritório Metro Arquitetos, são parte da readequação da fábrica da Nestlé e das novas instalações do Museu do Chocolate, o Chocolover. No edifício antigo – inaugurado em 1971 – são produzidos os chocolates Nestlé, espaço que também recebe o público para um tour de visitação pelas diversas etapas do processo de fabricação do produto. O programa apresentado aos arquitetos solicitava a reformulação do espaço do museu que estava obsoleto – era um simples corredor com janelas voltadas para a fábrica, porém sem uma compreensão real da produção do chocolate. “O cliente queria um museu interativo, com novas mídias e recursos cenográficos”, declara o arquiteto Gustavo Cedroni, um dos sócios do Metro Arquitetos, ao lado de Anna Ferrari e Martin Corullon.
Com a planta original em mãos, os arquitetos detectaram problemas no fluxo e na circulação das pessoas. “Havia um grande conflito entre as áreas de produção e de público, porque, para completar o percurso, o visitante precisava atravessar as ruas externas da fábrica por onde transitam caminhões”, relata Martin. A solução proposta foi implantar duas torres externas ao edifício, e duas passarelas que funcionam como circulação exclusiva para o público.
A solução se transformou na principal atração do edifício, pois, além de cumprir a função de circulação, causa grande impacto visual tanto durante o dia quanto de noite, graças à iluminação com lâmpadas led. O vermelho especificado pelos arquitetos possui intenso apelo sensorial e desperta o apetite. Ideal para uma fábrica de chocolate.
Incorporada à fachada do edifício, a passarela maior, voltada para a via Dutra, tem 100 m de extensão, 2,75 m de altura, está a 4,80 m do solo e possui fundação própria, ou seja, está justaposta à construção original. Finaliza em uma torre com 20 m de altura que abriga elevador e escada.
A passarela tem fechamento de vidro laminado temperado com película vermelha e, na face norte, é fechada por uma chapa metálica expandida, que funciona como um brise. O piso é de chapa perfurada para ventilar e escoar a água.
Sua estrutura metálica ganhou desenho inusitado: suaves ondulações que dão dinamismo ao conjunto. “É uma geometria mais complexa. Optamos por esse recurso pelo rendimento que traz como experiência espacial, ou seja, podíamos explorar formalmente, não apenas cumprir a função”, explica Martin Corullon.
A estrutura espacial triangular tem uma modulação básica, mas com deslocamentos vertical e horizontal que variam até 20 cm, formando faces irregulares que se repetem a cada quatro módulos de 2,75 m. A estrutura de sustentação da passarela é constituída por peças de aço com perfil I, sendo pilares espaçados a cada 10 m e vigas formando furquilhas. No trecho sobre a rua de circulação de veículos há um vão livre de 27,5 m. Essa passarela organiza a saída do público. A entrada é realizada por outra passarela com solução idêntica, porém menor – 20 m de extensão, vão livre de 15 m e torre de 10 m de altura.
Responsáveis também pela museografia, os arquitetos, junto com uma equipe de antropólogos, videomakers e cenotécnicos, setorizaram a fábrica de acordo com as áreas de produção e criaram 12 núcleos temáticos, cada um identificado por uma cor. Assim, no percurso de mil metros, janelas foram fechadas, dando lugar a aberturas redondas e ovais, mais lúdicas, e que permitem a visualização dos conteúdos mais interessantes da fábrica. “Usamos outras técnicas de museografia para deixar o percurso o mais interativo possível”, esclarece Gustavo.
Durante o trajeto, o público tem a seu dispor narrações por alto-falantes, painéis com imagens, textos, vídeos e lunetas. Há também telas touch screen e almofadas gigantes que deixam o formato da pessoa. Diferentes cores foram utilizadas nos pisos, paredes e teto, além de uma trilha sonora para cada espaço. A sala do bombom Alpino, por exemplo, tem som de jazz, enquanto a de massa de chocolate tem um som distorcido de fábrica, sempre com o objetivo de criar uma identidade marcante para cada núcleo.
Fonte: Revista aU