Owens vende unidade de fibras de vidro em Capivari cumprindo veto do Cade

Veto teve como motivação o combate ao monopólio no setor de fibras de vidro visando controle da inflação

Fernando Furlan, presidente do CADE
Fernando Furlan, presidente do CADE. Criação de um monopólio no setor, levaria à redução da oferta de fibras de vidro e aumentos nos preços.

Ao decidir em Toledo, Ohio, nos Estados Unidos, que vai vender uma fábrica em Capivari, no interior de São Paulo, a Owens Corning tornou-se a primeira empresa a cumprir integralmente um veto do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A venda da fábrica de Capivari foi uma determinação do órgão antitruste, em julho de 2008. Na época, os conselheiros do Cade concluíram, por unanimidade, que a compra do negócio de reforços de fibras de vidro da Compagnie de Saint-Gobain pela Owens Corning levou a um monopólio no setor.

O negócio uniu as duas únicas fabricantes de fibra de vidro. Além da fábrica de Capivari, o Brasil possui apenas outra, em Rio Claro, também no interior de São Paulo.

A fábrica de Capivari vai ser vendida para a Chongqing Polycomp International Corporation (CPIC), uma empresa chinesa do setor de fibras de vidro. A expectativa é que o negócio deve ser finalizado no segundo trimestre.

Em comunicado, a Owens informou que a venda para a CPIC depende da aprovação das autoridades regulatórias. De fato, o Cade impôs algumas condições para a Owens. O órgão antitruste determinou que a venda fosse feita para uma empresa independente da Owens e da Saint-Gobain, com atuação no mercado.

Os investimentos na unidade de Capivari e base de clientes devem ser mantidos. Para garantir a implementação dessas condições, o Cade determinou a contratação de um banco de investimentos para cuidar da venda. Foi a primeira vez que o órgão antitruste decidiu pela necessidade de um banco para realizar a venda de uma fábrica no país. A Owens informou que vai concentrar as suas atividades em Rio Claro.

A fibra de vidro é matéria-prima para uma série de indústrias. A automotiva usa as fibras para fazer amortecedores. O setor de construção fabrica painéis de fachadas e portas de entrada para residências a partir dessas fibras. Logo, um domínio no setor poderia acarretar um aumento da matéria-prima para diversas indústrias, o que subiria os preços dos produtos finais para os consumidores. Na prática, o combate ao monopólio no setor tem o objetivo claro de contribuir com o combate à inflação.

Assim que foi confirmado o veto do Cade à compra da Saint-Gobain, a Owens recorreu à Justiça. Mas, em setembro passado, a 20ª Vara Federal do Distrito Federal confirmou a decisão antitruste.

Em outros vetos a aquisições, o Cade enfrentou longas disputas na Justiça contra empresas. O caso mais emblemático é a compra da Garoto pela Nestlé. Ela foi vetada, em 2004, e o processo se encontra até hoje aguardando decisão judicial. Já no caso do veto à Gerdau, que adquiriu a siderúrgica Pains, em 1994, houve recurso diretamente ao Ministério da Justiça e o órgão antitruste reviu a sua decisão.

O caso Owens-Saint-Gobain foi relatado pelo conselheiro Fernando Furlan, que, hoje, preside o Cade. Na época do julgamento, Furlan argumentou que o pior cenário seria a não realização da venda da fábrica de Capivari. Isso significaria a criação de um monopólio no setor, o que, para Furlan, levaria à redução da oferta de fibras de vidro e aumentos nos preços do produto. Agora, a venda está prestes a ser efetivada.

Fonte: valor