Também chamado de obsidiana, vidro natural formado pela ação vulcânica é utilizado pelo homem há 75.000 anos
Por: Mauro Akerman – Escola do Vidro
A descoberta da maneira de produzir vidro acredita-se ter ocorrido a 5.000 anos atrás e as primeiras peças produzidas pelo homem datam de 3.500 anos, porém o vidro natural é muito mais antigo, sendo utilizado pelo homem há cerca de 75 000 anos.
Obsidianas podem ser encontradas em muitas regiões do planeta e são produzidas quando o calor intenso de um vulcão funde uma certa massa de sílica (areia, por exemplo) que ao esfriar-se passa a constituir vidro, possuindo todas as características e propriedades de um vidro comum. Em decorrência das impurezas naturais elas normalmente se apresentam na cor preta e são opacas, porém existem exemplares vermelho escuro e verde.
O fato de que uma lâmina de uma lasca de obsidiana, recentemente talhada, ser mais afiada do que um aço cirúrgico foi descoberto somente nos anos 70 e fez com que fossem utilizadas em cirurgias oftálmicas uma vez que a precisão do corte permite uma cicatrização mais rápida.
Esta propriedade de excelência de corte, muitas vezes atribuída como um defeito do vidro, foi utilizada favoravelmente em diversas oportunidades sendo responsável por determinação de fatos históricos da humanidade.
Os astecas, civilização que ocupava a América Central e norte da América do Sul antes da colonização européia, dispunham e empregavam obsidianas nas suas espadas e ferramentas de corte. Atribuí-se a isto o fato deste povo, apesar do grande desenvolvimento em diversas outras áreas, pouco ter evoluído no campo da metalurgia, uma vez que suas necessidades de dispositivos cortantes estavam supridas.
Ferramentas de obsidiana eram utilizadas na preparação da carne dos animais para alimentação e também em sacrifícios. A qualidade do corte ajuda a entender porque os Astecas praticavam tantos auto sacrifícios. Eles cortavam a língua e orelhas em ocasiões rituais ou faziam cortes no dedo indicador e atiravam o sangue derramado em direção ao sol ou à lua. Tais sacrifícios acreditava-se serem muito dolorosos, mas hoje sabe-se que uma lâmina de obsidiana pode ser tão afiada que o seu corte praticamente nem é sentido.
Quando da invasão dos colonizadores, os espanhóis que dispunham de espadas metálicas, mais aptas para a guerra por possuírem pontas, alem das armas de fogo, conseguiram facilmente sobrepujar os astecas com suas espadas adaptadas essencialmente ao corte.
Após a conquista os europeus passaram a empregar também obsidianas em muitas de suas ferramentas que somente no fim dos anos 1700 foram totalmente substituídas por aço na região.