Custo da energia se torna vilão da indústria brasileira

As indústrias do vidro e do alumínio estão entre as que mais sofrem com a alta do gás e da eletricidade

O avanço no preço da energia elétrica e do gás natural tem provocado uma queda gradual na competitividade da indústria brasileira. Ao lado do câmbio valorizado, os dois insumos se tornaram os principais vilões das empresas na hora de traçar suas estratégias. Algumas desistiram de ampliar suas fábricas, outras perderam mercado para os importados e há ainda aquelas que já estudam alternativas nos países vizinhos. Em seis anos, o preço do gás nacional subiu 266%, segundo a Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace), e o custo o da energia elétrica, 51%, ao passo que a inflação somou 40%.

No caso da eletricidade, o período avaliado não inclui o grande salto verificado entre 2002 e 2003, quando o governo iniciou o processo de realinhamento tarifário e elevou o preço médio para a indústria em 40%, numa única tacada. Se for considerado esse período, o aumento até agora soma 154%. “O resultado desses números é a redução da competitividade do produto nacional, que tem perdido cada vez mais espaço para os importados”, diz o presidente da Abrace, Paulo Pedrosa. Ele destaca que o preço do gás natural brasileiro custa quase o dobro do valor cobrado nos Estados Unidos, em torno de US$ 6,6 o milhão de BTU (Uni­­dade Térmica Britânica).

Em 2007, com uma crise de abastecimento, a Petrobras renegociou os contratos com as distribuidoras e os preços subiram cerca de 30%, diz o presidente da consultoria Gas Energy, Marco Tavares. Embora o balanço entre oferta e demanda tenha se equilibrado, os preços continuaram elevados. A tarifa de energia não fica atrás. É a terceira maior do mundo, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Frustração no setor do vidro e alumínio

Entre as indústrias que mais sofrem com a alta do gás e da eletricidade estão a de alumínio e a de vidros. No passado, o setor de vidros correu para converter sua produção para o gás natural e hoje é refém do produto, diz o superintendente da Associação Brasileira das Indústrias Auto­máticas de Vidro (Abividro), Lu­­cien Belmonte. Segundo ele, in­­vestidores que querem se instalar no país levam um susto quando veem o preço dos insumos.

Usinas próprias “salvam” setor de alumínio

Para o coordenador da Comissão de Energia da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Eduardo Spalding, se as indústrias do setor dependessem 100% da energia comprada no mercado, muitas não estariam operando hoje. A salvação é que no passado elas conseguiram construir suas próprias usinas, o que lhes permite uma energia com o custo mais barato, diz o executivo.

Ele observa que, apesar de toda demanda mundial de alumínio e de ter a segunda maior reserva de bauxita, há 25 anos não é construído um novo “smelter” (unidade produtiva de alumínio primário) no país. “O que existe hoje é a expansão de plantas já existentes”, afirma Spalding, destacando que a energia elétrica representa 35% do preço de cada tonelada de alumínio.

Em busca de competitividade, afirma ele, as companhias estão buscando novas alternativas nos países vizinhos, como é o caso da Rio Tinto Alcan, que desenvolve estudo para uma unidade produtora de 500 mil toneladas de alumínio no Pa­­raguai, para usar a energia mais barata de Itaipu.

Gás nacional

No caso dos setores que usam o gás natural como principal insumo, a grande esperança é que o aumento da produção nacional possa reduzir os custos nos próximos anos. Com a entrada em operação de novas reservas a partir de 2011, haverá excedente de gás no mercado, diz o presidente da consultoria Gas Energy, Marco Tavares. “Teremos uma oferta que será multiplicada por três nos próximos anos.”

O problema é que até agora o governo federal não deu nenhum sinal do que vai fazer. “Precisamos de uma política de gás natural no Brasil, que mostre qual será a participação do produto na matriz energética e onde ele será usado”, diz Tavares. Ele avalia que não há motivos para o preço do produto continuar em nível elevado como o atual. “Com o excedente de gás no Brasil e no exterior – como já está ocorrendo – há espaço para o valor do produto cair algo em torno de 30%.”

Fonte: Gazeta do Povo